Orçamento secreto: Senador diz recebeu R$ 50 milhões em emendas por apoio a Pacheco
Marcos do Val (Podemos-ES) deu a declaração em entrevista a 'O Estado de S. Paulo'

Foto: Roque de Sá/Agência Senado | Pedro Gontijo/Agência Senado
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que recebeu R$ 50 milhões em emendas parlamentares como um sinal de "gratidão" por ter apoiado a eleição do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em 2021.
As emendas parlamentares são fatias do orçamento repassadas a deputados e senadores para que eles atendam suas bases eleitorais financiando obras, projetos e ações, nas áreas de educação e saúde, em estados e municípios.
A liberação dessas verbas está condicionada a uma série de critérios. Já a emenda de relator, criada no governo Bolsonaro para criar base de sustentação no Congresso, não exige a divulgação de quem receberá o dinheiro e como ele será aplicado, por isso o apelido de "orçamento secreto".
Depois que a entrevista foi divulgada, do Val disse que foi mal interpretado. Ele ressaltou que não houve negociação de recursos em troca de votos para Pacheco. A assessoria de imprensa de Pacheco disse que ele não vai comentar a entrevista.
Segundo Marcos do Val, ele foi informado de que receberia os R$ 50 milhões do orçamento secreto por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que teria dito que esse seria um gesto de "gratidão" de Pacheco pelo apoio à sua eleição.
Marcos do Val, no entanto, desconversou quando foi perguntado pelo Estadão se seu voto foi comprado com a emenda. "Olha, assim, no critério que ele tinha colocado, eu acho que eu ia receber... Era assim: a minha parte seria de 10, 15, 20, alguma coisa assim, entendeu? Então como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi, e aí pode ser que eu esteja enganado, vocês que levantam tudo, eu acho que eu recebi o mesmo que os líderes", disse.
Acontece que a legislação prevê que a distribuição de emendas deve ser impessoal e igualitária. O critério de "gratidão" usado para destinar a verba pública a Marcos do Val, portanto, poderia até mesmo ser enquadrado como compra de voto.