Pacote eleitoral de Lula para 2026 entra na reta final com governo e PT em embate com Congresso
Governo busca aprovar pautas estratégicas para fortalecer Lula em 2026, mas enfrenta resistência crescente do centrão e riscos de novas derrotas no Congresso.

Foto: José Cruz/Agência Brasil
O governo vai tentar aprovar nos próximos dois meses projetos para compor a vitrine do presidente Lula (PT) nas eleições de 2026, mas pode enfrentar um clima hostil não só da oposição, mas de boa parte do centrão.
O grupo liderou na quarta-feira (8) a derrubada da MP (medida provisória) de aumento de impostos e, a partir daí, voltou a ser alvo de forte campanha da esquerda nas redes sociais. O governo também começou uma retaliação na sexta (10), demitindo indicados de deputados que votaram contra a MP.
Apesar de nominalmente comandar 11 ministérios de Lula, o centrão trabalha majoritariamente pela candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Entre as medidas tidas como prioritárias pelo governo até o fim do ano estão a MP do Gás do Povo, a MP de resposta ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública. Além dessas, já nesta semana há sessão do Congresso para votação de vetos da Lei do Licenciamento Ambiental, entre outros, além da análise da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.
Há um conflito em torno da previsão na LDO para pagamento das emendas parlamentares no ano eleitoral. O relator, deputado Gervásio Maia (PSB-PB), propôs que o governo federal pague as emendas até junho do ano que vem, antes da eleição. A iniciativa contraria o governo, que teme ficar com um estrangulamento maior no Orçamento, e a tendência é que Lula vete essa obrigatoriedade. Parlamentares do centrão querem acelerar o pagamento das emendas para tentar garantir que o governo não priorize aliados, deixando apenas para o fim do ano a liberação de verbas para opositores.
As emendas, que em 2026 devem passar a casa dos R$ 50 bilhões, são o carro-chefe nas campanhas eleitorais dos congressistas. Governistas citam ainda como prioridade no Congresso a análise da PEC do fim da escala 6x1 (seis dias de trabalho e um de descanso) e a adoção da tarifa zero no transporte público, mas essa última é apenas cogitada pelo Executivo e não chegou a ser enviada ao Congresso.
O fim da escala 6x1 habita mais o discurso do que a prática. Proposta em fevereiro pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), a PEC está estacionada até agora no mesmo lugar, apesar de o tema ser amplamente abordado na propaganda petista e governista.
Na avaliação de petistas ouvidos pela reportagem, ainda que a situação na Câmara seja desfavorável ao governo, algumas matérias da vitrine de Lula devem ser aprovadas porque têm forte apelo popular, como a que trata da distribuição de botijões de gás.
Eles apontam como exemplo a votação na Câmara para ampliar a isenção do Imposto de Renda, no último dia 1º, que teve unanimidade e é uma das principais bandeiras eleitorais de Lula --ainda falta a aprovação no Senado. Apesar do anunciado desembarque de PP e União Brasil --que mantêm, entretanto, participação no governo--, alguns deputados da base e também da oposição apontam que o revés na votação da MP pode ser algo pontual e ligado ao tema do aumento de impostos.
Para evitar desgastes, porém, há líderes partidários governistas defendendo que o governo acione o Congresso o mínimo possível. Segundo essa visão, o saldo eleitoral para Lula nas redes e nas ruas é mais importante do que os resultados no Parlamento. Deputados do PT chegam a dizer que a rejeição da MP dos impostos gerou uma oportunidade para reforçar o mote da justiça social e da "taxação BBB" (uma referência a bancos, bets e bilionários), além de demarcar a posição do presidente Lula ao lado do povo e contra privilégios dos mais ricos.
Alguns negam, porém, que a campanha de "Congresso inimigo do povo" parta do governo, e muitos dizem discordar dela, em um aceno ao Legislativo e ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Isso apesar de Lula ter dito no dia seguinte à derrota na Câmara estar muito triste com um Congresso que resista a fazer os ricos pagarem um pouco mais de imposto. Nesta sexta, cinco superintendentes regionais ligados ao MDB e PSD foram exonerados.
Um integrante do Planalto diz que os aliados foram alertados de que a votação da MP era decisiva e que aqueles que se posicionassem contra a medida provisória fariam uma opção de sair do governo. Como consequência, os superintendentes do Ministério da Agricultura no Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão perderam os cargos. No Ministério dos Transportes, a baixa foi na superintendência do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) de Roraima.
As demissões causaram insatisfação principalmente no PSD, de acordo com deputados ouvidos pela reportagem. Um líder da sigla classificou a ação do governo como "pouco inteligente" e sem sentido, já que a sigla foi a segunda com maior apoio à MP, atrás apenas do PT. O PSD orientou voto contra a MP, numa ação coordenada pelo presidente do partido, Gilberto Kassab. Já MDB declarou voto a favor. Ambas as bancadas racharam, com os votos divididos entre a rejeição e o apoio à proposta do governo que aumentava impostos para cobrir despesas.