Pesquisa afirma que 60% dos quilombos sofrem invasão e garimpo

Estudo foi lançado nesta quinta-feira (13), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30)

Por Da Redação
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Pesquisa afirma que 60% dos quilombos sofrem invasão e garimpo

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As invasões e o garimpo ilegal aconteceram em aproximadamente 60% das comunidades quilombolas brasileiras, de acordo com pesquisa inédita do Instituto Sumaúma, organização da sociedade civil sem fins lucrativos. O estudo foi lançado nesta quinta-feira (13), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Chamado de Corpos-territórios quilombolas e o fio conectado da ancestralidade: entre as agendas de justiça climática e as práticas culturais e comunicacionais, o estudo alerta para a sobreposição entre crises climáticas e violações de direitos humanos, que ameaçam os territórios e modos de vida das comunidades. Mais da metade (54,7%) dos territórios já reporta secas extremas e 43,4% sofrem com perda das plantações.

"Os dados provam o que as lideranças denunciam há décadas: o racismo ambiental define quem recebe investimento e quem tem seu território invadido", disse Taís Oliveira, diretora do Instituto Sumaúma.

"Não haverá justiça climática enquanto o financiamento climático não adotar lentes antirracistas. Os quilombos não são apenas vítimas das mudanças climáticas, eles são detentores das soluções ancestrais de manejo e proteção que o Brasil precisa”,  emenda.

A pesquisa também aponta que 64,2% das lideranças quilombolas encaram barreiras para captar recursos diante o do racismo estrutural. A exclusão é agravada por falhas no ecossistema de filantropia e investimento social, que raramente prioriza projetos comandados por comunidades negras.

A agenda de sobrevivência e direitos básicos é ainda mais urgente: o racismo (87%), a demanda por políticas públicas (85%) e educação (77,4%) foram os temas mais mencionados.

O estudo aponta que o protagonismo feminino e jovem entre comunicadores quilombolas - 58,5% são mulheres e aproximadamente 70% têm entre 18 e 39 anos de idade. Mais da metade (52,8%) possui ensino superior completo ou incompleto. Apesar do elevado nível de escolaridade, 88% vivem com até cinco salários mínimos.

Outro dado crítico é a baixa infraestrutura digital: aproximadamente metade das comunidades encara problemas de internet e sinal móvel. Ainda assim, 96% utilizam o celular diariamente e 87% recorrem às redes sociais como ferramenta de mobilização.

As conclusões do estudo reforçam a urgência de políticas públicas e financiamento antirracista que reconheçam o papel das comunidades quilombolas na justiça climática e na preservação dos biomas brasileiros.

“Ainda existe uma imagem equivocada e até estereotipada de que os quilombolas vivem isolados, e essa não é a realidade. Assim como outras populações, nós também temos acesso à internet, frequentamos faculdade e levamos uma vida como qualquer outra", explica Juliane Sousa, quilombola, jornalista e pesquisadora que atua como consultora convidada na pesquisa.

"A diferença está na nossa relação com a natureza, que vem de nossas heranças ancestrais e se baseia no cuidado com todas as formas de vida. Para nós, nada disso é novo, é só a maneira como vivemos”, esclarece.

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