Pesquisa relaciona vício em telas a comportamentos suicidas!

Estudo americano associa o uso compulsivo de mídias sociais e videogames a saúde mental em adolescentes

Por Michel Telles
Ás

Pesquisa relaciona vício em telas a comportamentos suicidas!

Foto: Div

Adolescentes que relatam uso compulsivo de telas apresentam maior risco de comportamento suicida. É o que mostra estudo recentemente publicado na prestigiada revista médica JAMA e liderado por pesquisadores da Weill Cornell Medicine e das Universidades Columbia e da Califórnia, nos EUA. Estudo descobre que o uso viciante de telas, e não o tempo total de uso, está ligado ao risco de suicídio entre os jovens. 

Pesquisadores americanos constataram que, aos 14 anos, 1/3 dos adolescentes tinha uma trajetória de alto uso aditivo para mídias sociais e um em cada quatro para celulares. Mais de 40% dos jovens tinham uma trajetória de alto uso aditivo para videogames. Esses adolescentes eram significativamente mais propensos a relatar pensamentos ou comportamentos suicidas, bem como sintomas de ansiedade, depressão, agressividade ou quebra de regras. Ou seja, o vício em jogos é potencialmente mais letal para a saúde mental dos adolescentes.

“Enfrentamos o que pode ser caracterizado como uma pandemia silenciosa de transtornos mentais na Geração Alpha. Quando adolescentes participam desses desafios potencialmente letais, ocorre uma desconexão funcional momentânea entre os circuitos neurais relacionados à recompensa social e aqueles vinculados à percepção de perigo”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP. A dopamina (o hormônio do prazer), que é liberada ao receber notificações ou likes nas redes sociais, gera uma sensação momentânea de prazer e um ciclo difícil de romper especialmente nessa faixa etária em busca de aceitação e de pertencimento social.

O foco do trabalho é na Geração Alpha, pessoas nascidas a partir de 2010 e que cresceram em um mundo totalmente digital. Ao longo de quatro anos, os pesquisadores acompanharam 4300 jovens americanos, de diferentes gêneros e etnias, que tinham de 9 a 10 anos quando iniciaram o estudo e em torno dos 14 anos quando a pesquisa foi finalizada. O objetivo era observar o desenvolvimento cognitivo do cérebro adolescente e como se dava a dependência digital. Nessa faixa etária, o cérebro se encontra em fase crítica de maturação. O córtex pré-frontal, responsável pela avaliação de riscos, controle inibitório e tomada de decisões, está em pleno desenvolvimento.                                     

“Enfrentamos o que pode ser caracterizado como uma pandemia silenciosa de transtornos mentais na Geração Alpha. Quando adolescentes participam desses desafios potencialmente letais, ocorre uma desconexão funcional momentânea entre os circuitos neurais relacionados à recompensa social e aqueles vinculados à percepção de perigo”, destaca o médico Rodolfo Damiano, professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP e autor do livro Compreendendo o Suicídio. Crédito da foto: Veridiana Brandão.

“O estudo americano demonstra que trajetórias de uso aditivo de redes sociais e celulares — especialmente aquelas que se intensificam a partir dos 11 anos — mais que dobram o risco de comportamentos suicidas na adolescência. O dado mais impactante é que não é o tempo de tela em si, mas sim os padrões compulsivos de uso que predizem sofrimento psíquico e risco de suicídio”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, autor de Compreendendo o Suicídio (Editora Manole). “Isso dialoga diretamente com a realidade brasileira, onde 93% dos adolescentes estão conectados às redes sociais e somos o segundo país do mundo em tempo médio de uso. A pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e estratégias preventivas voltadas à identificação precoce de padrões de uso problemático para uma abordagem mais eficaz e baseada em evidências da saúde mental infantojuvenil”, explica Damiano, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

A sobrecarga de estímulos digitais interfere na regulação natural dos neurotransmissores dos adolescentes. O estudo não comprova que o uso de telas seja a causa de problemas de saúde mental. O que mais importava, na pesquisa, era como os jovens estavam interagindo com as telas — especialmente se seu uso demonstrava sinais de compulsão, sofrimento ou perda de controle. Mas como perceber se uma criança ou adolescente está viciada em telas?  Os principais sinais que os pais e educadores devem ficar atentos são: sentir-se incapaz de parar de usar um dispositivo, a preocupação excessiva em ficar sem o celular, a irritabilidade, o desânimo e a ansiedade. O “como” usar as redes mostrou-se, no estudo, mais importante que o “quanto”.

Clique aqui para ver o estudo:

https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2835481

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário

Nome é obrigatório
E-mail é obrigatório
E-mail inválido
Comentário é obrigatório
É necessário confirmar que leu e aceita os nossos Termos de Política e Privacidade para continuar.
Comentário enviado com sucesso!
Erro ao enviar comentário. Tente novamente mais tarde.