PF divulga lista de monitorados pela Abin Paralela
Moraes retirou o sigilo do relatório na última quarta. A PF aponta que o esquema era realizado para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro

Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
O último relatório da Polícia Federal (PF) sobre a investigação que apura um monitoramento ilegal de autoridades pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) indicou que havia uma espionagem em série de personalidades, como deputados e investigadores utilizando as ferramentas do órgão.
Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do relatório na última quarta-feira (18). Os investigadores acreditam que a Abin foi usada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para fins políticos e pessoais, ou seja para beneficiar o político. A PF indiciou mais de 30 pessoas no esquema.
A lista de indiciados que a PF entregou ao STF inclui o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem — ambos do PL — e o do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
O esquema de monitoramento irregular recebeu o nome de Abin paralela e teve jornalistas como foco também. Um dos métodos usados para a espionagem irregular era o monitoramento através do "First Mile", um software israelense.
Monitoramento político
O relatório da Polícia Federal apontou que Ramagem utilizou o sistema "First Mile" para realizar fiscalizações ilegais contra políticos da oposição e críticos do governo.
Entre as ordens diretas de Ramagem estavam ações de fiscalização e investigações que buscavam “caçar os podres” de Rodrigo Maia (PSDB), ex-presidente da Câmara, e da então deputada Joice Hasselmann (Podemos), antiga aliada de Bolsonaro que rompeu com ele.
A PF ainda indica que foram alvo de “dossiês” da Abin:
Alexandre de Moraes, ministro do STF;
Luís Roberto Barroso, presidente do STF;
deputado Kim Kataguiri (União-SP);
deputado Arthur Lira (PP-AL);
senador Renan Calheiros (MDB-AL);
senador Omar Aziz (PSD-AM);
senador Randolfe Rodrigues (PT-AP);
Segundo o inquérito, a solicitação de monitoramento desses políticos veio da presidência da República e "comprova o viés precipuamente político da ação clandestina".
Caso Marielle
O homicídio da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, morta em 2018, também foi monitorado pela Abin.
A Polícia Civil carioca trocou o delegado caso, em 2020, o então diretor-geral, Alexandre Ramagem, solicitou que os agentes fizessem um dossiê sobre o novo delegado, Daniel Freitas da Rosa.
O inquérito aponta que o monitoramento da apuração aconteceu para prevê possíveis referências que vinculassem de forma indevida o Núcleo Político que gerenciava a agência.
Caso Adélio Bispo
Ramagem solicitou que Marcelo Bormevet examinasse todos os documentos disponíveis sobre o caso Adélio Bispo, em março de 2022, que tentou assassinar o Bolsonaro.
"Coisa simples. Como está agora. Em que ponto relatoria, quebras, etc. Acredito que tenha tudo em fonte aberta. Preciso saber a condição dele no sistema prisional, onde está. Há quanto tempo. A quebra do tel de advogados. Para hoje à noite", afirmou o pedido.
Um dos documentos achados sob posse de Ramagem, ele fala que quer interferir na PF para mudar o caminho da apuração sobre o caso.
"Coloquei na PF a linha de que essa investigação tem que ser toda verificada desde o início. Correição permite. Passei ao Corregedor-Geral. Estou esperando a resposta. Eu cobro, mas não anda", disse o deputado em nota.
Monitoramento de personalidades
O ex-deputado Jean Wyllys foi monitorado por solicitação da presidência, a informação é comprovada devido a uma troca de mensagens entre Giancarlo, que estava fisicamente no GSI.
“Fala, amigão. Eles são muito ariscos. Trocam de chip a todo instante. Mas consegui um número que o Jean usou para baixar o Telegram. O DDD era do Cear. Já deve ter mudado, mas pode ser um bom ponto de partida. Podemos puxar o CPF dessa linha e ver se habilitaram outros telefones nele. Ele também tem o site e o Instagram. Estou em cima. Parece que estão usando Signal”, disse um dos agentes.
Renan Bolsonaro
A Abin ainda foi usada para interferir nas apurações da PF contra o filho de ex-presidente.
A agência também recebeu uma solicitação para "caçar podre" de Allan Gustavo Lucena de Norte, ex-sócio e personal trainer de Jair Renan Bolsonaro, o filho 04.
Os agentes fizeram até a vigilância do ex-sócio, que achou estranho a movimentação e acionou a Polícia Militar, que prendeu um dos agentes, mas ele acabou fugindo para não ir até à Polícia Civil.
"A determinação da diligência partiu do Palácio do Planalto, na figura do Gabinete de Segurança Institucional e foi realizada diretamente pelos policiais federais cedidos, que respondiam diretamente ao Diretor-Geral, sem a participação de servidores orgânicos", disse o inquérito.
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