Altamira, no Pará, sofre com descumprimento da Usina Belo Monte
Pescadores apontaram ecossistema fragilizado e diminuição de espécies de peixes

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Problemas nos sistemas de habitação, de água e saneamento, que surgiram após a construção da usina, em Altamira, no Pará, acarretaram no aumento de custo de vida para a população da cidade.
Em dois anos, mostra levantamento recente divulgado pela Exame, houve uma explosão demográfica de 75 mil para 150 mil habitantes, junto a uma série de problemas desencadeados por uma obra de tamanha magnitude, com promessas de induzir o desenvolvimento econômico sustentável da região por meio da geração de empregos e melhorias nos serviços públicos de saneamento, saúde e educação - ainda apenas no discurso.
Com isso, após a diminuição da produção de alimentos e da pesca na região, aumentou o custo de vida e da energia elétrica para a população, além dos impactos sociais e ambientais da construção da usina de Belo Monte, e os únicos benefícios da obra para a região foram a pavimentação de um grande trecho da Transamazônica que já era uma reivindicação antiga, e a criação de empregos na obra e no setor comercial durante a construção, porém de forma muito temporária. De acordo com a revista Exame, o pico de criação de empregos aconteceu no terceiro ano da empreitada, depois começou um processo de demissões até o término da construção.
Com mais de 50 mil pessoas em Altamira, entre 2011 e 2015, para trabalhar diretamente na obra ou nos setores de comércio e de serviços, resultou em especulação imobiliária na cidade, sobretudo que já sofria uma insuficiência crônica de moradias e eu origem a novos loteamentos planejados e não planejados e novos bairros periféricos.
Antes das obras, 86% da população de Altamira usava poços para consumo doméstico de água e, mais de 90%, fossas sépticas para descarte de esgoto, porém, com a demora dos investimentos em saneamento na cidade, que não contava com uma rede de esgoto, novos poços e fossas foram construídos, aumentaram o risco de contaminação da água por diminuir a distância entre o fundo das fossas e as águas subterrâneas.
O aumento do nível da água com a barragem também causou o deslocamento de 22 mil pessoas que viviam às margens do rio Xingu e na cidade de Altamira, em áreas baixas que seriam inundadas pelo reservatório, para cinco reassentamentos urbanos coletivos (RUCs), construídos pelo consórcio responsável pela obra em áreas periféricas de Altamira, a mais de dois quilômetros do centro.
No período entre 2010 e 2014, 34% dos agricultores patronais e 29% dos produtores agrícolas familiares reportaram ter observado uma queda na disponibilidade de mão de obra em razão da migração de trabalhadores para a cidade para trabalhar na construção de Belo Monte, o que fez aumentar o custo salarial.
No mesmo período, 60% dos agricultores que se dedicavam à agricultura familiar abandonaram suas lavouras de culturas anuais como arroz, feijão e milho. Em contrapartida, aumentou a produção de cacau e a bovinocultura na região, de acordo com dados apresentados por Miqueias Calvi, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), também participante do projeto.


