Presidente de Madagascar foge do país após militares se aliarem a protestos da Geração Z
Andry Rajoelina teria deixado o país em avião militar francês após rebelião das Forças Armadas; oposição e manifestantes comemoram nas ruas da capital Antananarivo.

Foto: Reprodução/ Instagram/ gen_z_madagascar
O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, fugiu do país neste domingo (12) depois que militares rebeldes assumiram o controle das Forças Armadas, segundo autoridades locais. A informação foi confirmada por Siteny Randrianasoloniaiko, líder da oposição no Parlamento, à agência Reuters. De acordo com Randrianasoloniaiko, unidades do Exército desertaram e se juntaram aos manifestantes da Geração Z, que realizam protestos contra o governo desde 25 de setembro. “Ligamos para a equipe da presidência e eles confirmaram que ele deixou o país”, afirmou o parlamentar. O paradeiro atual de Rajoelina ainda é desconhecido.
Segundo uma fonte militar, o presidente deixou Madagascar em um avião militar francês, após um possível acordo com o presidente da França, Emmanuel Macron, relatou a rádio RFI. O gabinete de Rajoelina, que havia informado que o presidente faria um pronunciamento à nação na noite desta segunda-feira (13), não respondeu aos pedidos de comentário.
Com a saída do chefe de Estado, a presidência interina será assumida pelo presidente do Senado. No entanto, o ocupante do cargo foi destituído nesta segunda-feira e substituído por Jean André Ndremanjary, segundo comunicado divulgado pela casa legislativa.
Rebelião militar e queda de Rajoelina
O anúncio do Exército sobre a tomada de poder das Forças Armadas foi feito pouco depois de Rajoelina denunciar uma “tentativa ilegal de tomada do poder”. Em vídeo divulgado nas redes, militares declararam que todas as ordens do Exército de Madagascar passam a ser emitidas pelo quartel-general do CAPSAT, unidade administrativa e técnica das forças militares.
No sábado (11), os militares rebeldes se juntaram a milhares de manifestantes em Antananarivo, capital do país, nos maiores protestos desde o início da crise. O movimento começou com queixas sobre cortes de energia e água, mas evoluiu para críticas à corrupção, ao desemprego e à desigualdade social. Segundo a ONU, ao menos 22 pessoas foram mortas em confrontos entre manifestantes e forças de segurança desde o fim de setembro.
Geração Z nas ruas
A chamada “Primavera dos novinhos”, protagonizada pela Geração Z jovens nascidos entre 1995 e 2009, tem se espalhado por diversos países. Nos últimos meses, movimentos semelhantes derrubaram líderes no Nepal e no Peru, e geraram protestos massivos no Quênia, Indonésia, Filipinas e Marrocos. Em Antananarivo, manifestantes comemoraram a fuga de Rajoelina gritando “O presidente deve renunciar agora!”. Imagens mostram soldados marchando ao lado da população, após recusarem ordens de reprimir os protestos.
Madagascar, um dos países mais pobres do mundo, tem um histórico de instabilidade política desde a independência da França, em 1960. Em 2009, protestos semelhantes forçaram o então presidente Marc Ravalomanana a deixar o cargo, abrindo caminho para o primeiro mandato de Rajoelina. Ele voltou ao poder em 2018 e foi reeleito em 2023, em eleições marcadas por boicote da oposição e denúncias de fraude.