Riscos evitáveis explicam quase 60% dos casos de demência no Brasil, aponta estudo
Baixa escolaridade, perda de visão não tratada e depressão estão entre os principais fatores

Foto: Agência Brasil
Quase 60% dos casos de demência no Brasil estão associados a fatores de risco modificáveis, segundo estudo liderado pela Faculdade de Medicina da USP. Entre os principais, estão baixa escolaridade na infância, perda da capacidade visual não tratada e depressão.
Os fatores modificáveis são aqueles que podem ser prevenidos ou minimizados por políticas públicas, intervenções de saúde ou cuidados individuais. Eles se diferenciam de fatores não modificáveis, como envelhecimento e predisposição genética.
Estudos do Relatório Nacional sobre Demência, do Ministério da Saúde, indicam que entre 12,5% e 17,5% da população idosa brasileira apresenta alguma forma da doença, que se torna mais prevalente à medida que aumenta o número de pessoas acima de 65 anos.
Principais fatores de risco
A pesquisa analisou 14 condições com potencial de prevenção, usando dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), coordenado pela UFMG e Fiocruz.
Os três fatores de maior impacto foram:
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Baixa escolaridade na infância: 9,5%;
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Perda de visão não tratada: 9,2%;
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Depressão na meia-idade: 6,3%.
Outros fatores incluem isolamento social, poluição do ar, traumatismo craniano, hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool, perda auditiva e colesterol elevado.
Segundo a professora Cláudia Suemoto, da USP, a baixa escolaridade influencia a reserva cognitiva, ou seja, a capacidade do cérebro de criar novas conexões neuronais e compensar danos futuros.
A perda visual limita a estimulação cerebral, prejudicando memória e aprendizado. A depressão reduz a vontade de enfrentar desafios, podendo afetar a saúde neural a longo prazo.
O estudo revelou que a baixa escolaridade e a perda visual não tratada são mais impactantes nas regiões mais pobres e entre pessoas negras. A proporção brasileira de fatores de risco é maior que a média mundial em 10 das 14 condições analisadas, reforçando a influência das desigualdades socioeconômicas.
Prevenção e políticas públicas
A especialista recomenda políticas de educação infantil, acesso à saúde mental, cuidado oftalmológico e prevenção de doenças cardiovasculares. “Ao melhorar escolaridade, tratar depressão e controlar pressão alta, diabetes e colesterol, também prevenimos a demência”, afirma.
“Prevenção é essencial, porque o envelhecimento é inevitável, mas a demência pode ser reduzida com intervenções precoces”, alerta Suemoto.