Salvador enfrenta crescimento significativo de pessoas em situação de rua
Dados não puderam ser corretamente checados por falta de informações da Sempre

Foto: José Cruz/Agência Brasil
Basta andar nas ruas e utilizar qualquer tipo de transporte de Salvador para perceber que o número de pessoas em situação de rua cresceu significativamente. Desde 2019, esta população cresceu 38%, superando 281 mil pessoas no Brasil, no ano passado, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na capital baiana, o último censo municipal realizado e divulgado é de 2009 e apontava cerca de 2 mil cidadãos. A Prefeitura iniciou em agosto de 2022, a Pesquisa de Mapeamento, Contagem e Caracterização da População.
Um número parcial de 5 mil moradores foi divulgado em julho deste ano pela Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre), mas, os dados não foram disponibilizados. Segundo a assessoria, faltou o aval do secretário da pasta, senhor Júnior Magalhães.
O Farol da Bahia lamenta a indisponibilidade dos dados que deveriam ser públicos, uma vez que, para que esta matéria ficasse clara para os cidadãos soteropolitanos era necessária a colaboração do secretário Júnior Magalhães, o que não, não se sabe por qual motivo, não aconteceu.
De acordo com o relatório População em situação de rua: diagnóstico com base nos dados e informações disponíveis em registro administrativo e sistemas do Governo Federal, 37% das pessoas sem residência nasceram no município, enquanto 59%, vieram de outro município, como aconteceu com a capixaba Elisangela Ferraz da Rocha, de 23 anos, uma mulher preta.
Motivada a deixar a cidade natal por conta de um relacionamento amoroso, Elisangela se viu sozinha após o término. Hoje, ela mora com a filha de 1 ano e 6 meses e o atual companheiro na Unidade de Acolhimento Emergencial (UAE). A familia está no local a cerca de dois meses.
“Tive uma discussão com a família dele, não deu certo e resolvivir embora. Aí fui procurar uma unidade de acolhimento e conheci outro companheiro. É difícil porque são muitas pessoas diferentes. Muitas pessoas usam drogas, muitos tipos de pessoas que não tem como você conviver. Eu fico mais isolada, fico mais no meu quarto com a minha família”, contou.
Elisangela e sua filha de 1 ano e 6 meses - Foto: Farol da Bahia
Sem emprego e perspectiva de melhora em Salvador, Elisangela deseja se mudar para o Rio de Janeiro, encontrar seus irmãos e tentar um recomeço junto a sua família. O sonho é voltar a estudar e encontrar um emprego. “Dar uma vida melhor a minha filha, em um local seguro”.
Quem compartilha do mesmo objetivo é Ronaldo Silva Vegas, homossexual de 21 anos, que vive nas ruas da capital baiana desde os 11 anos de idade. “Meu sonho é ter um emprego digno para mim, para eu me manter, para sair da rua, para ajudar também várias outras pessoas” afirmou.
Mesmo muito novo, Ronaldo Vegas deixou seu lar por conflitos familiares e, apesar do contato com a irmã, não tem vontade de retornar. “Não querem aceitar a verdade do que eu sou: gay. A rua está para todos, ensina a todos, mas sair de casa é uma dor, mas eu tive que sair para a minha melhora. Na rua eu tenho vários amigos, conheço todo mundo e todo mundo gosta de mim como eu sou”, contou.
Ronaldo Silva Vegas vive na rua desde os 11 anos - Foto: Farol da Bahia
Pretos são maioria nas ruas
Ronaldo e Elisangela se somam as quase 15 mil pessoas em situação de rua e colocam a Bahia entre os estados que registram mais de 10 mil cidadãos nesta condição, segundo o relatório do Governo Federal que tem números diferentes do município. Nesta lista, estão os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, e Rio Grande do Sul.
Ambos se encaixam também no perfil apontado pelo levantamento: majoritariamente masculino (87%), adulto (55% têm entre 30 e 49 anos) e de pessoas pretas (pardas - 51%; pretas - 17%). A maioria sabe ler e escrever (90%). No quesito raça ou cor, a população preta representa 93% das pessoas em situação de rua nos estados da Bahia e do Amazonas.
Outro ponto em comum, são os principais motivos apontados pelo estudo para a situação de rua: problemas familiares (44%), seguido do desemprego (39%), do alcoolismo e/ou uso de drogas (29%) e da perda de moradia (23%).