Dos pequenos atos a decisões importantes que movem multidões, a tolerância é cada vez mais uma condição superlativa na dinâmica da sociedade contemporânea. É latente e visível: o mundo de hoje é um emaranhado de pessoas diferentes, que pensam diferente e lidam de formas distintas diante de regras e ordens às quais estão submetidas. Tolerar, portanto, mais do que uma concessão, é aceitar por meio da sensibilidade – de preferência, incondicionalmente. 

A necessidade do mundo em desenvolver a tolerância foi recentemente tema de um dos mais brilhantes filmes do final de 2019, Dois Papas, lançada por um serviço de streaming, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus, Jardineiro Fiel) e estrelado pelo impávido Anthony Hopkins, como Bento XVI, junto a Jonathan Pryce, no papel do argentino Jorge Bergoglio.

As dúvidas espirituais, a árdua busca pela remissão dos pecados e os inevitáveis fantasmas do passado que rondam as perspectivas diferentes do catolicismo nos inteligentes diálogos dos personagens, trazem um assunto tão específico da Igreja Católica ao mundo terreno, de forma que qualquer pessoa, e independente de religião, reflita sobre o ato de tolerar. 

O aumento da tensão entre Estados Unidos e Irã nesta última semana, devido a um ríspido ataque norte-americano a Bagdá, no Iraque, que matou o general Qasem Soleimani (um dos homens mais poderosos do país persa), traz à tona o perigo da intolerância. É um momento em que se aumenta os ataques às religiões, aos costumes e, por consequência, emerge-se um cenário de caos ante a sempre delicada paz entre nações tão distintas em diversos aspectos. 

Tolerar é desvincular-se da colonização da consciência alheia. É um esforço de reconhecer que o mundo não comporta o pensamento hegemônico e muito menos é local para quem apreende e repreende conceitos, fé, modos ou duvidosas e autoritárias morais. A única verdade absoluta da existência é o amor, a base para todas as relações da vida.