Troca na Saúde: técnica e apartidária

Confira o nosso editorial desta sexta-feira (17)

Por Erick Tedesco
Às

Troca na Saúde: técnica e apartidária

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A troca na chefia do Ministério da Saúde estava, há semanas, premeditada. Uma obviedade, afinal, atitudes drásticas são medidas irreversíveis quando ruídos na comunicação, insubordinação e divergências metodológicas se colocam entre dois profissionais de relações diretas numa cadeira hierárquica. E, neste caso, se trata de uma relação de poderosos: ministro e presidente.

Neste momento de tantas incertezas provocadas pela pandemia da Covid-19 (novo coronavírus), ao mesmo tempo de tantas tentativas para controlar a disseminação da doença, a sintonia entre o chefe do Executivo com seus ministros, e principalmente o titular da Saúde, vai além da dinâmica e etiqueta política. É, no entanto, bom senso esperado entre todas as partes para manter uma nação em pé diante de um vírus ainda sem cura ou tratamento 100% certificado pela medicina.

Então sai Luiz Henrique Mandetta, médico e político, e entra Nelson Teich, médico e, bem, médico, sem filiação partidária – o ex-ministro, que é ex-deputado, tem vínculo com o Dem. O efeito da decisão, que pese os prós e contras a decisão de Bolsonaro pela troca, só poderá ser medida no decorrer da gestão de Teich, que ontem mesmo ressaltou o “alinhamento completo” entre ele e o presidente, mas prometeu “sequência” e que vai “agregar” à gestão desenvolvida por Mandetta. 

À favor da nomeação de Teich está exatamente sua ocupação técnica dentro da saúde – o momento não permite brechas para eventuais tacadas políticas utilizando o posto que se ocupada dentro do Palácio do Planalto em pleno combate à Covid-19. 

Mas, além disso, a experiência de gestor do novo mistro deve lhe dar vantagem na forma como vai tratar a questão do isolamento. Teich sinalizou que apostará fichas na testagem em massa da população para reduzir a intensidade do isolamento, no entanto, rechaçou, num primeiro instante, qualquer mudança “brusca ou radical”.

A tecnicidade de Teich também está evidente quando o assunto é o uso da cloroquina. O discurso é de cautela, segundo demonstrou em entrevista nesta quinta-feira para uma emissora de televisão. “Toda medicação nova tem que ser testada. A hora que você tiver uma informação clara sobre a eficácia, o benefício, a indicação, isso estará disponível para todo mundo. Aí você define. Quando não tem isso, o que você vai ter é opinião, e não orientação”, destacou.

Pesa, ainda, a preocupação de Teich em conciliar o combate à pandemia com a busca do equilíbrio econômico e este é um ponto importantíssimo tanto ao alinhamento com o presidente como à luta de todo o país contra a proliferação do vírus.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário