Turismo de Conhecimento

Um segmento em ascenção

O turismo, assim como outros setores da economia, tem se reinventado num processo de transformação que procura desenvolver estratégias para romper uma possível estagnação do setor. Dentro dessas estratégias, a segmentação tem obtido sucesso, uma vez que busca alcançar determinadas pessoas, cujos interesses são bastante específicos. Um desses segmentos é o turismo de conhecimento, onde o viajante é apresentado a uma possibilidade de aprofundamento maior nas particularidades de cada destino escolhido, podendo descobrir e/ou vivenciar experiências mais intensas do que o simplesmente estar em um local e registrar em uma fotografia. 

Pensando nisso, surgiram empresas especializadas em fornecer essa demanda a um público naturalmente mais exigente, sendo destaque no Brasil, a Latitudes Viagens de Conhecimento (www.latitudes.com.br), do empresário Alexandre Cymbalista, há mais de 15 anos no ramo do turismo de conhecimento e que gentilmente deu uma entrevista para o Farol, procurando de uma forma bastante objetiva, esclarecer alguns aspectos a respeito do tema. Vamos a ela:

O turismo tem se segmentado em “especialidades”, visando atender parcela do público que tem interesses específicos. Onde o turismo de conhecimento se encaixa? Qual é o público-alvo deste segmento? 

Quem procura pela viagem de conhecimento está sempre em busca de algo a mais, de um aprendizado mais aprofundado a respeito dos lugares que vai visitar algo que não se encontra facilmente dentro das possibilidades que o mercado tem oferecido que elas já conhecem bem porque normalmente possuem experiência em viagens, já fizeram de tudo, conhecem os lugares comuns e agora buscam uma experiência mais intensa, que lhes proporcione crescimento pessoal e amplie sua visão de mundo. Essa proposta é interessante e atrai muitas pessoas, mas em especial pessoas na faixa de mais de 40 anos, conectadas e informadas e que, além de já esperarem um excelente nível de estrutura para suas viagens, também buscam tranquilidade mental para esse período. Elas não querem se preocupar com nada, apenas fazer as malas e se divertir, e por isso nos procuram.

Viagens de conhecimento tem sido um segmento do turismo que tem crescido de uma forma bastante significativa na Europa e nos Estados Unidos nos últimos anos. O senhor consegue perceber esse crescimento também no Brasil?

Sem dúvida. Nosso crescimento nos últimos anos tem sido reflexo disso, pois estamos 100% voltados para o mercado nacional. É um segmento que a Latitudes enxergou lá atrás, há 15 anos, e que nos últimos anos tem sido cada vez mais incorporado no portfólio de outros agentes do mercado. Isso é mais um sinal de que as pessoas estão, de fato, querendo mais.
Sendo a Latitudes, uma empresa que atua nesse segmento desde 2003, o senhor acredita que a empresa está pronta para lidar com essa perspectiva de aumento da demanda? 
Temos que estar. Trabalhamos olhando lá pra frente, pensando em como o viajante vai consumir viagens daqui a 3, 5, 10 anos. É um mercado em constante evolução, e o comportamento desse consumidor é altamente dinâmico. Está no nosso DNA criar produtos que podem parecer coisa de maluco, mas que farão todo sentido daqui a alguns anos. Foi assim com a criação de grupos acompanhados por especialistas, foi assim com a volta ao mundo em avião privativo, e assim seguiremos.

A empresa tem planos para expansão caso a economia se aqueça como esperado para os próximos anos?

É inevitável que ampliemos os nossos negócios e criemos produtos de olho na demanda e nas tendências do mercado, mas estudamos muito bem antes de dar qualquer passo, afinal, estamos dentro de um nicho que por vezes se comporta de maneira diferente do que o esperado.

O turista que procura realizar uma viagem de conhecimento busca uma experiência maior do que as viagens ditas normais oferecem. Como oferecer algo tão específico e que varia de pessoa para pessoa? 

Conhecimento e experiência. Conhecimento sobre os destinos, sobre os fornecedores, seus limites e possibilidades que eles oferecem dentro dos padrões de serviço que o nosso cliente espera. Experiência para saber o que já deu certo e o que já deu errado e, sobretudo, conhecimento sobre quem é o seu cliente. Os grupos com poucas pessoas são uma forma de lidar com especificidades que, num grupo maior, você não conseguiria administrar tão bem. Mas cada viagem é um aprendizado, sempre.

A Latitudes oferece roteiros para todos os continentes. Esses roteiros são padronizados ou podem ser ajustados ao gosto do cliente? 

Há os dois formatos. Normalmente, os roteiros que são feitos para grupos são mais padronizados, há um script já aprendido por nós a seguir. Os roteiros que chamamos de personalizados, que são elaborados para uma pessoa, um casal ou grupo de amigas, possuem uma elasticidade maior. Mas ambos exigem muita atenção aos detalhes. São eles que podem encantar ou acabar com uma viagem.

O que é oferecido ao interessado em adquirir um pacote? Existe um pacote básico? 

Nossas viagens buscam justamente ir à contramão do que costuma ser chamado de pacote. Como o próprio nome já diz, quando um produto é “empacotado”, ele é criado a partir da visão do produto, e não do cliente. São formatos em que o viajante não tem quase nenhuma autonomia sobre o que está comprando e seu poder de escolha é mínimo. Nós não fazemos esse tipo de viagem, e isso já começa na forma como montamos o nosso produto, cuja parte aérea não está inclusa e o cliente pode comprar à parte conosco. Fora isso, sempre os melhores hotéis, atividades e passeios relevantes nos destinos, e o mais importante, bons guias locais.

Quais os roteiros ou pacotes mais procurados entre os brasileiros? 

Aqui na Latitudes a Índia sempre está entre as primeiras posições. No último ano, destinos como África, Japão, Atacama, Peru, Marrocos e Sudeste Asiático são muito requisitados. Já entre os grupos, temos tido muito sucesso com Irã, Japão, Líbano, Armênia e Israel.

Os turistas são instruídos sobre a cultura dos locais visitados para evitar problemas ou “gafes” culturais, ou isso fica por conta de cada um? 

São instruídos, sempre. Uma das nossas preocupações é fazer com que o nosso cliente comece a sua viagem muito antes de embarcar, e dar a ele informações a respeito desse universo cultural faz parte dessa imersão. É uma prática comum nossa fazer encontros e conversas prévias com nossa equipe e com os especialistas sobre os roteiros, além do material escrito como a apostila de viagem que ele ganha.

Os guias que acompanham os turistas são brasileiros ou fala português e conhecem nossos costumes?

Em geral, existem três elementos nos nossos grupos que são fundamentais para que a fórmula da viagem de conhecimento dê certo. O primeiro deles é o especialista, sempre brasileiro, selecionado por nós, que cuida exclusivamente do conteúdo temático, sua única preocupação é como passar as informações aos viajantes da melhor forma. Em segundo lugar, temos o anfitrião Latitudes, esse também sempre brasileiro, é alguém da nossa equipe, experiente em viagens com grupos, que cuida de todos os aspectos logísticos e operacionais da viagem. Além de cuidar dos clientes, o anfitrião auxilia na organização da rotina da viagem. Em terceiro lugar há o guia local, e essa é uma escolha chave. Havendo disponibilidade de guias que falem português, sempre tentamos com eles. Mas há muitos destinos em que isso não é possível e então ficamos com guias que fala inglês ou espanhol. O guia local traz informações e detalhes complementares ao conteúdo ministrado pelo especialista, e é quem sabe como as coisas estão funcionando naquele lugar, naquele momento. Assim, são cruciais termos fornecedores locais de qualidade nos destinos e estabelecermos boas relações com eles. E claro, é fundamental que ele conheça o perfil dos brasileiros e, sobretudo, o perfil do cliente Latitudes.

Existem roteiros nacionais para viagens de conhecimento? Quais? Caso negativo existe plano para oferecer roteiros no Brasil? 

Existem, mas não ainda em grande quantidade. Fomos à primeira produtora de viagens a levar grupos com especialistas em arte para o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e há anos levamos grupos para o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, um lugar incrível com a maior concentração de sítios arqueológicos com pinturas rupestres do mundo, e que possui uma estrutura de visitação de altíssimo nível. Os clientes voltam de lá encantados e muito surpreendidos com tamanha riqueza, ainda pouco conhecida pelos brasileiros. O Brasil é um país com diversas oportunidades para se criar esse tipo de produto, porém ainda deixa a desejar na questão hoteleira, que normalmente é onde encontramos problemas.

Ao encerrar a entrevista, Alexandre ainda nos deixou a informação de que pela terceira vez, a Latitudes, oferecerá um roteiro de imersão cultural em seu jato privativo, onde, entre outubro e novembro deste ano, 32 passageiros percorrerão destinos fora de rotas comerciais em oito países africanos (África do Sul, Ruanda, Namíbia, Etiópia, Zâmbia, Quênia, Botsuana e Seychelles). Produzido por brasileiros para brasileiros, todo o roteiro será feito em português, com três especialistas: o pesquisador em Biologia Evolutiva de Microorganismos, Daniel Larh, o jornalista internacional Lourival Sant'anna e o geólogo, escritor e fotógrafo Adriano Gambarini.

A jornada foi pensada para entender a importância do continente que, além de ser berço histórico e cultural da humanidade, terá um crescimento populacional expressivo nos próximos anos, alcançando um terço da população total do planeta até 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Entre as experiências que serão vivenciadas estão um safári em um santuário de Botsuana, onde será possível ver leões, elefantes, rinocerontes, búfalos e leopardos; uma visita às 11 igrejas escavadas em rocha na cidade de Lalibela (Etiópia), tesouro arqueológico que foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO; e a possibilidade de se aproximar dos gorilas da montanha em Ruanda, atividade restritíssima, por conta do um controle feito em respeito aos animais.

Uma amostra da variada gama de opções para aqueles que desejam uma experiência turística diferenciada e única, proporcionada pelo turismo de conhecimento.

 


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