A invenção do amor

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A invenção do amor

Nem sempre o amor venceu. Ao longo da História, o amor colecionou derrotas. Uniões foram celebradas como pacto político entre Reis e outros chefes de Estado. Outras vezes, prevaleceram os dotes ofertados, tantas outras, o casamento decorria de velhas tradições endógenas ou exógenas, a fim de perpetuar famílias e tribos. O fogo que arde sem se ver, como disse o poeta Camões, raramente crepitava nas uniões matrimoniais. 

Os modelos matrimonias dependiam das culturas que moldaram o modo de vida de diferentes comunidades humanas. Ao longo da História não foram poucos e diversificados os cerimoniais, as comidas, os ritos religiosos e toda sorte de invencionices geradas à época do politeísmo religioso, até que o Ocidente cristão introduzisse o monoteísmo e as formas modernas da família. 

Não que o amor nunca estivesse habitado o coração dos seres humanos. Sempre esteve e cada vez mais ardente e arrebatador. Porém, não era o amor que ditava as regras civis, numa sociedade predominantemente patriarcal, fundada em valores sociais que não subsistiram ao poder devastador dos tempos.

O amor teria surgido quando essas formas primitivas entraram em decadência e cederam lugar exclusivamente à era dos sentimentos, na qual as uniões matrimonias eram celebradas, na maioria das vezes, pela força arrebatadora dos desejos carnais e atrações alucinantes entre as personalidades, seus valores e encantos. O que, em linhas mal traçadas, se chamou de amor.

O século XIX teria sido o testemunha ocular e existencial dessa maravilhosa transformação da intimidade, que conduz a Humanidade para uma era de felicidade e maior identidade entre os sexos. São outras as vontades e as aspirações humanas, apesar de tudo!

O ódio, antípoda do amor, todavia, sempre teve o caminho livre para prosperar e se impor. Ganhou, inclusive, gênero binário, masculino e feminino. A “ódia”, pela boca de Dona Carmem, ministra da alta corte do país de “duzentos e treze milhões de pequenos tiranos”, segrega mulheres num “apartheid” sexual nunca visto e que, certamente, condenará os habitantes dessa triste nação chamada Brasil a eunucos morais.

Nosso bom poeta Manoel Bandeira lembrou que “só é meu o mundo que trago dentro da alma”. Com isso pacifiquei meu coração revoltado, com tão abjetas palavras da Juíza. Sem qualquer resquício de amor e respeito ao cidadão brasileiro, classificado como tiranete, sua “ódia” revelou uma pessoa doente, que não descansa da sua loucura, inócua e provocativa.

Imagino o que diria o mais festejado dos nossos escritores, Machado de Assis, quando se deparasse com tamanha insanidade, proferida por uma Juíza da Suprema Corte. Ele que disse que “o país real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”. Palavras gentís, ditas com a finalidade de expressar  tamanho disparate! 

Não consigo perceber quem ou quando fizeram com essa desmiolada e agressiva Juíza, nem de onde assimilou esse “ódia” aos cidadãos, vejo, claramente, todavia, que o que fizeram com ela e seus cúmplices, é irremediável. “Sei que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente”.

Comentários

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lidia santana
É de rir e chorar ao mesmo tempo. Quando agente pensa que chego o fim, aparece esse "odia" para provar a fuleiragem suprema dessa corte.

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