José Medrado

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A psicanálise nos traz interessantes reflexões sobre os processos humanos de frustração, recalques...e neste contexto Freud considera sobre o narcisismo que, em linhas gerais e sucintas, nada mais é que um transtorno de personalidade, cuja condição mental leva as pessoas a terem um senso inflado sobre a própria importância, suas verdades, em uma necessidade enorme de atenção e admiração. Tornam-se centradas nelas mesmas e em seus interesses. Existem, então, nessa direção as feridas narcísicas, que, em verdade, são as que ferem exatamente o que o narcisista busca. Há certas verdades, no entanto, que ferem individualmente o orgulho narcísico, mas há outras que abalam o orgulho humano, em geral.  Em um excelente artigo de 1917, abordando o narcisismo humano e a questão da dificuldade afetiva, Freud aponta três grandes desilusões sofridas pela humanidade ao longo da sua história, as quais são referenciadas como feridas narcísicas. Freud ressalta que o amor próprio da humanidade foi seriamente abalado por três golpes: o primeiro golpe ocorre por volta de 1500 com revolução científica do astrônomo Nicolau Copérnico que bate de frente com a sua teoria do heliocentrismo à que se cria - o geocentrismo, de Ptolomeu e da bíblia, e que já perdurava por mais de 1000 anos, a Terra como centro do Universo. Citando-o: “quando essa descoberta atingiu um reconhecimento geral, o amor-próprio da humanidade sofreu o seu primeiro golpe, o golpe cosmológico” (FREUD,1917). A Terra, então, deixa de ser o centro do Universo; a segunda ferida narcísica ocorre quando Charles Darwin com a publicação de o seu “A Origem das Espécies”, em 1859, mostra que o homem descende de um primata como consequência de ciclos de evolução e não mais como um ser especial criado por Deus para ser o dominador da natureza. Era o “golpe biológico do narcisismo do homem”. Muitos tentam reverter tais certezas, reafirmando o criacionismo.

Finalmente, a terceira ferida narcísica, Freud se considera o responsável, nada modesto, que foi a apresentação do inconsciente, o homem deixa de ser o “senhor de sua própria casa”. Assim, a divisão do psíquico em um consciente e inconsciente constitui base essencial dos estudos da psicanálise. É com foco nessa premissa que diversos processos patológicos como histerias, neuroses, psicoses e outros fenômenos cotidianos, como sonhos, atos falhos, esquecimentos são compreendidos e explicados no contexto de uma ciência psicanalítica. Em razão de tudo isso, há estudiosos do comportamento humano que remetem  ao mundo atual, afirmando que passa por uma espécie de epidemia de feridas narcísicas, como que a não aceitar e revisar conceitos pessoais, familiares e de sociedade, convulsionando diversos segmentos, em uma espécie de “está tudo errado e precisamos consertar”. Surgem, então, os conflitos de lógica e bom sento, em uma aparência de retrocesso de valores conquistados ao logo de dezenas de anos. Mas trataremos disso em outro momento.


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