José Medrado

Mesmo os mais ardorosos defensores do presidente Bolsonaro têm dito que o presidente precisaria rever algumas posturas, principalmente verbais, em sua conduta, sem falar as inúmeras voltadas atrás que, não raras vezes, se tem verificado exatamente por conta de suas incontinências verbais.

Alguns dos seus críticos afirmam que, em verdade, tudo não passa de um jogo de cena, onde o presidente desvia o foco das questões prementes de sua administração, reforçando o discurso para os seus “convertidos”. Fato é que a sua assessoria deve estar se movimentando para que alguma coisa seja feita, em razão da recém divulgada pesquisa do Datafolha, em que afirma que uma parcela de 43% da população declarou que nunca confia nas falas do presidente Jair Bolsonaro. De acordo, ainda, com o estudo, outras 37% afirmaram confiar às vezes, e uma parcela de 19% disse confiar sempre. Um por cento não soube responder. A pesquisa ouviu 2.948 pessoas em 176 cidades de todo o país, entre a última quinta-feira, 5, e sexta-feira, 6. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

O Capitão tem um estilo bem próprio de se comunicar, que estaria muito alinhado às suas pregações legislativas, mas agora como líder da Nação, seguramente, precisa entender que suas colocações mexem desde o humores dos mercados financeiros até mesmo com práticas cidadãs sociais. Já existe, inclusive, inúmeras cobranças da sua verve contra a corrupção, que tem esfriado ao longo deste já um ano de mandato. O presidente tem deixado muito à conta do ministro Sérgio Moro as articulações e defesa de seu projeto anticrime, o que tem soado com certa desconfiança àqueles eleitores que, não sendo seguidores ferrenhos, votaram nele em função do seu discurso de probidade e implacável perseguição aos dilapidadores do Estado brasileiro.

Guardo a impressão que o presidente esquece que deixou de ser pedra para ser vidraça, e que as suas palavras são, de um lado, atiçadoras de ânimo a determinadas exaltações, mas também, por outro, podem gerar desencantos e até mesmo decepção a um grande número de eleitores que esperava dele contundência  nas questões republicanas de tolerância zero com a corrupção. É assim que continua muito estranha a situação, por exemplo, do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, investigado pelo esquema de supostas candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais nas eleições de 2018, e já denunciado  duas vezes pelo Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais, por suposto uso de caixa dois nas eleições de 2018, após a apresentação de duas novas testemunhas, além do indiciamento pela Polícia Federal no inquérito da Operação Sufrágio Ostentação por falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação indébita. Já passou da hora de pegar o seu boné e responder aos seus indiciamentos, mas ao que tudo indica ele continua firme e forte em seu posto. Soa muito mal.


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