José Medrado

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Cazuza, em uma de suas músicas, cantava: Ideologia, eu quero uma pra viver... Eu não quero. Penso e busco ter ações que agreguem o outro, não segreguem.  O nosso presidente, ao tomar posse, ou mesmo em campanha, afirmava que iria devolver os médicos cubanos ao seu país de origem. Razões lídimas apresentava, porém se esqueceu, diriam os jovens, de combinar com os redutos longínquos de nosso País, onde os nossos médicos não se habilitam a ir. Agora, no entanto, em razão das dificuldades de atender a esses lugares, diz que convidará os médicos cubanos que aqui ficaram para serem lotados nessas localidades. Não seria mais fácil antes defenestrar, por questões ideológicas, atender as reais necessidades da população?
Muitos estudiosos tentam conceituar ideologia. Geralmente, afirmam que são valores de convicção, de ideais. Mas o que seriam estas convicções? Produtos de uma construção histórica, nascida da cultura a que somos submetidos, ou mesmo a que se tem notícias, nem sempre verdadeiras, refletidas na real história, podendo, inclusive ter sido fabricada, ilusória e quiçá manipulada? Há ainda o conceito de ideação própria de indivíduos, não, necessariamente, de um conjunto cultural, mas gerada por hábeis navegadores da manipulação. Temos exemplos em todos os tempos de grandes carismas que, por interesses próprios, forjam uma ideologia, que mais poderia ser uma seita, uma mono-ideia para gerir a liderança. Talvez o maior exemplo tenha sido Rasputim, na Rússia de Nicolau II. A verdade é que a imposição de conceitos, em forma de ideologia, pode gerar um fanatismo obnubilador da razão, consequentemente levar a atitudes insanas, de consequências não cogitadas, mas que terminam por prejudicar o entorno do formador da ideia. A imposição de uma conduta acaba por expropriar a possibilidade de que o indivíduo dominado venha a expressar suas ideias.
O fato é que o mundo da compreensão do que seja ideologia é complexo. O filósofo e ensaísta inglês, Francis Bacon, por exemplo, desenvolve um estudo extremamente próximo ao que hoje se costuma entender por ideologia, através de sua teoria sobre as quatro classes de ídolos, que guarda em sua essência nos dificultar o entendimento ponderado e sensato das questões. Esses ídolos são os da caverna: nossas idiossincrasias, caráter; da tribo: superstições, paixões; da praça: as inter-relações humanas, principalmente através da linguagem; e os ídolos do teatro: a transmissão das tradições e doutrinas dogmáticas e autoritárias, através do teatro, que seriam, hoje, os meios de comunicação social e as encenações surfadas em uma onda que “colou” em algum segmento. Ou seja, as ideologias só servem para mascarar o que se pode conceber como princípios de ações que visem ao interesse geral, coletivo, uma vez que as ideologias satisfazem a grupos, grandes ou pequenos, mas sempre a interesses restritos. Lamentável, pois deixamos de pensar o que é bom nos diversos sistemas, para laçar mãos de rótulos que criam preconceitos e segregam.


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