Quando o Rei português, Afonso IV ordenou o sacrifício de Inês de Castro, amante do seu filho e herdeiro D. Pedro I, por volta do ano de 1335, não imaginou que o poeta Luís de Camões tornaria este hediondo assassinato, até hoje, famoso. Em versos memoráveis, lastimou a morte de Inês, que fora coroada, pelo seu amante, rainha de Portugal. O maior de todos os poetas portugueses lastimou que “a mísera e mesquinha, depois de morta foi rainha”.
Imagino que os Estados Unidos da América poderão no futuro próximo, mais próximo do que imaginam, carpidar o desaparecimento das democracias no hemisfério ocidental, mais precisamente na América Latina, na qual Cuba, Venezuela, Nicarágua já seguiram este caminho e o Brasil dá passos largos na mesma direção.
Não perceber esta realidade é tapar o sol com uma peneira. No nosso país desapareceram a separação dos poderes republicanos, a temperança e a justiça sumiram dos Tribunais superiores, o jogo eleitoral foi violentamente sacrificado, a política externa do atual Governo rompeu com todas as nossas tradições e imbricou-se com ditaduras e terrorismo, o narco-tráfico instalou-se na estrutura governamental, enfim, aceitar que em 2026 teremos eleições livres é um sonho de uma noite verão!
Esses países, sem exceção, implantaram seus regimes totalitários, valendo-se das imperfeições que infelizmente estão profundamente arraigadas aos seus sistemas políticos, favorecidos pela dualidade de suas estruturas econômicas e sociais, as quais convivem com gritantes desigualdades.
Não creio que hajam muitos analistas, por mais experientes que sejam, capazes de predizer com absoluta certeza o desfecho final da atual crise diplomática e militar que se configura atualmente na região caribenha, envolvendo principalmente a Venezuela e o regime narcotraficante de Nicolás Maduro. Igualmente, não consigo ver com clareza, o consectário dos diferentes problemas daí decorrentes, sejam quais forem as soluções deste enfrentamento, que, por seu turno, guardam características inusitadas e repercussões regionais e globais. O principal objetivo dos Estados Unidos é assegurar para o futuro das Américas a prevalência da democracia e dos valores tradicionais presentes na base moral e filosófica do mundo ocidental, ameaçados pelo avanço comercial e político da China, da Rússia e do Irã na região.
Para alcançar seus desideratos, os norte-americanos necessitam admitir que os problemas, tal como são colocados e entendidos na geopolítica do mundo atual, são tão pertinentes aos Estados Unidos, como atingem diretamente as demais nações do continente, cujos esforços são notoriamente insuficientes para consolidar um regime de liberdades e progresso econômico.
A Venezuela, a Colômbia, a Nicarágua e Cuba representam, em muitos aspectos - uma vez eliminados os seus regimes opressivos - e na medida que a intervenção norte-americana seja bem sucedida, uma significativa transformação no espaço geopolítico do mar do Caribe.
Todavia, convém ressaltar que o mapa da mina está mais ao sul do Continente: se chama Brasil. A venezualização das instituições brasileiras já chegou a um ponto em que silenciar é uma demonstração de estupidez. Franz Kafta não deixa por menos e nos diz claramente: “a partir de certo ponto não há retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado”.
O Brasil enfrentou por mais de vinte anos uma ditadura militar. Longos vinte anos. Não foi fácil removê-la e alcançar o continente democrático. Ouso dizer que a ditadura de 64, como foi chamada –apesar do horror inominável que representou – foi menos viral e demoníaca do que esta, que mina até destruir, os recursos políticos que, a duras penas, a nação reuniu.
O país se vê apartado de todos os valores que constituíram sua cultura e suas crenças morais. É hora de recobrá-los. Custe o que custar!
E os Estados Unidos da América? O que representa a maior nação do continente latino americano abandonar sua própria história, sua inegável força política no Continente e gerar o ovo da serpente?
As violações se espalham como um rastilho de pólvora e eliminam as liberdades democráticas no Brasil, levam de roldão um continente inteiro e ameaçam a mais pungente nação do mundo à sua própria sobrevivência.
Aí, Inês de Castro ainda estará viva. Porém, dando o seu último suspiro de vida. Logo estará completamente morta. Mais morta do que imaginas!
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