Marcelo Cordeiro
O discurso de entrega do prêmio Nobel da Paz a Maria Corina Machado, proferido pelo presidente do Comitê Nobel, em Oslo, capital da Noruega, senhor Jorgen Watne Frydnes, representa a mais cabal reprovação global aos regimes totalitários espalhados pelo mundo. Pela sua profundidade e coerência é uma advertência a todos os regimes autocráticos existentes e àqueles em pleno desenvolvimento, como é o caso da ditadura judicial instalada no Brasil.
O Comitê norueguês atribui o galardão da paz a Maria Corina Machado, líder inconteste da Oposição venezuelana ao regime de Nicolás Maduro pelo seu “trabalho incansável na promoção de direitos democráticos para o povo da Venezuela” e pela “sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Neste sentido, a líder do povo venezuelano expressa a convicção que, a despeito do caráter sanguinário e violento do regime iniciado por Hugo Chaves, como tão bem destacou o presidente do Comitê Nobel, a transição deve percorrer um caminho democrático, alicerçada em eleições livres.
A primeira lição que se depreende desse comportamento tático é a necessária unidade das forças políticas, empenhadas na mudança de regime e o advento de uma Venezuela livre. Sem essa condição prévia, torna-se muito difícil, mesmo com a poderosa ajuda dos Estados Unidos, derrotar um regime que, ao longo de mais de vinte anos, se estruturou como um Estado de narcotraficantes, policial e terrorista!
Em meio a todo esforço e os perigos envolvidos, Maria Corina não logrou participar da solenidade de premiação e foi substituída por sua filha, cujo corajoso e lúcido discurso a todos contagiou e comoveu, o que era esperado. “O inesperado fez uma surpresa” rica e digna da grandeza moral e política da solenidade.
Tão surpreendente quanto o discurso da homenageada foi o do promotor da homenagem. Em nome da premiação concedida, o presidente do Comitê Nobel descreveu em seus mais contundentes pormenores o terror da ditadura, sua crueldade e os pavorosos crimes por ela cometidos contra os direitos humanos.
Se a opinião pública mundial tinha algum dúvida quanto a legalidade e conveniência da intervenção norte-americana para eliminar a ditadura de Nicolás Maduro e seus cúmplices, já os pode arquivar em nome da restauração plena dos valores da democracia.
A Venezuela é mais que uma realidade local, incrustada no continente latino americano. É o desenho de um novo modelo de totalitarismo, aurido dos restos mortais do socialismo fracassado, em todos os seus experimentos. Do antigo regime conservou o coletivismo autoritário e enveredou por um sistema econômico e social baseado na eliminação, ainda que gradual e às vezes violenta, da propriedade privada.
A concessão do prêmio Nobel da Paz a Corina Machado, colheu um amplo apoio da opinião pública mundial e seu fruto mais importante para as liberdades no mundo, é, sem dúvida, a advertência que contém, a fim de que não prospere, principalmente na América do Sul, essa erva daninha, que ameaça a democracia, trilhando os mesmos caminhos por onde o totalitarismo se instalou na Venezuela. Maria Corina, elevou sua voz a alturas para que todos ouçam e entendam, que uma vez instaladas as ditaduras erguem muralhas à sombra das quais sobrevivem!



