José Medrado

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Muitos têm estranhado o processo de crença de segmentos políticos que se encontram postos no momento brasileiro. Cada grupo estranhará sempre a concepção, os conceitos e entendimentos do outro grupo, mas, em verdade, muito dificilmente as defesas de “verdades” desses agrupamentos guardam, necessariamente, lógica, bom senso de conteúdo. Infelizmente não. As pesquisas de sociólogos e antropólogos de há muito deixaram de lado o entendimento de raças, junção por elas. Passaram a considerar a ideia de pertencimento que pode ser temporária ou permanente com afinidade de conceituar. O sentimento de pertencimentos estará, via de regra, sempre atrelado à produção de conteúdo dos que pensam da mesma forma, limitando, por óbvio, qualquer convergência de diferenças, muito pelo contrário. No pertencimento buscado pelos participantes de seus grupos específicos será sempre para aprofundar as diferenças, estabelecendo linhas de manutenção. 

Dessa forma, é ledo engano se imaginar que o compartilhamento de material de entendimento do seu grupo, mudará a posição dos contrários a ele. Esse entendimento será, isto sim, sempre reforçado, de onde se percebe o chamado reforço de situação. Pertencimento será sempre uma comunidade de conteúdo com sentido específico. Esses grupos se caracterizarão pelas formas como se organizam no seu conteúdo de defesa. Isso significa que cada grupo social partilha de normas, valores, hábitos e costumes próprios. Assim, quando falamos, em caso do Brasil, que está polarizado, significa exatamente isto: valores em conflito. Valor de perceber, de analisar, de assimilar. Esse sentimento de pertencimento estará sempre assentado sobre pilares de interesse (em direções diversificadas – poder, dinheiro, prestígio) ou de grande carência (preciso ser aceito para não me sentir sozinho), tudo isto repassado, em geral, por um objetivo comum a todos os seus integrantes, por mais que o nível de contato entre eles possa variar ou ser apenas por internet.  

No momento que esses conteúdos vão se espalhando, muitos sentirão a necessidade de alimentar, sustentar a fonte de conteúdo do seu grupo, em uma cadeia de liderança, que estabelece uma espécie de centro nervoso de comando alimentador e filtros do que dever ser dito, distorcido ou mentido. O importante é a manutenção dos conteúdos. Assim, esses grupos se sustentam a partir de forças de liderança, de normas e sanções, de valores e de símbolos, criados ou adotados.  

Os estudiosos do comportamento humano afirmam que quando a necessidade de pertencimento extrapola a lógica do crivo racional de análise a ponto de absorver “conhecimentos” falaciosos e ou mentirosos, significa grande presença de baixa autoestima, insegurança e sentimento de rejeição dos pais na infância. Isso, portanto, gera um aceitar, muitas vezes, apenas ao sabor da correnteza que no momento prepondera, ou seja, a tal tão ouvida Maria vai com a outras.  

O psicanalista Heinz Kohut que desenvolveu um modelo chamado de “psicologia do self” no início da década de 1970, propôs que o “ato de pertencer” é uma das principais necessidades do self (indivíduo como se revela e se conhece em sua própria consciência), ele ainda remete como a sensação de ser um “humano entre seres humanos”, o que nos faz sentir uma conexão com outras pessoas e o seu sentir. Não é saudável, por análise, portanto, aceitar valores sem os questionar, pois estaremos neste sentido abrindo mão do que somos, para sermos aceitos.  


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