Patrícia Salles

Estamos diante de uma grande epidemia de câncer da tireoide, em geral papilífero e que, na grande maioria das vezes, ficaria silencioso sem causar nenhum problema para o paciente durante toda sua vida. No entanto, quando descobertos via o exame ultrassom da tireóide, acarretam sérios problemas emocionais e financeiros ao paciente. Desta forma, a pergunta que fica é: vale a pena realizar ultrassom em todo mundo?  A maioria dos consensos diz que não, com exceção dos grupos de risco. Os médicos, por sua vez, enfrentam grandes dilemas: fazer ou não fazer ultrassom de rotina, puncionar ou não puncionar nódulos menores do que 1 cm. Os consensos estão aí para ajudar o profissional em sua conduta. 

Nódulos na tireoide consiste em problema clínico comum. A ocorrência de nódulo tireoidiano palpável em áreas suficientes de iodo está em torno de 5% a 7% nas mulheres, 1% nos homens e 1% nas crianças. Com a introdução do ultrassom em algumas populações, observa-se que de 19% a 68% apresentam nódulo na tireoide, principalmente mulheres e idosos. A importância dos nódulos tireoidianos se baseia na precisão de se afastar câncer na tireoide, que ocorre em 7% a 15% dos nódulos, dependendo da idade, sexo, exposição à irradiação prévia, história familiar e outros fatores. Câncer da tireoide diferenciado, que inclui neoplasia papilífera e folicular, compõe a maioria dos cânceres de tireoide (>90%) e na grande maioria das vezes tem bom prognóstico. 

Em 95% das tireoides que tem nódulo, a função é normal. Somente em 5% vamos encontrar hipotireoidismo ou hipertireoidismo. Na tireoide com nódulo e função normal não se aplica o uso de medicamentos. O nódulo, na verdade, não é tratado com nenhum tipo de remédio. As drogas só devem ser administradas para tratar a disfunção tireoidiana - hipo ou hipertireoidismo. 

A grande pergunta que se faz hoje é sobre a validade do ultrassom da tireoide como rotina em todos os pacientes, como ocorre em alguns lugares, principalmente entre algumas especialidades. Fato é que existe uma relação custo-benefício nesta conduta. Estudos mostram que a feitura do exame como rotina não demonstrou ganhos na diminuição da mortalidade.  

A indicação do ultrassom se faz necessária em todos os pacientes com disfunção da função tireoidiana, naqueles com anticorpos positivos, nos quais foi palpado nódulo na tireoide, com histórico familiar e de exposição à irradiação, pacientes que apresentam nódulos em exames não específicos para a tireoide - como duplex de carótidas etc. -, e portadores de adenomatose endócrina múltipla (MEN). No entanto, há algum consenso sobre a indicação de realização da prova de função tireoidiana a partir dos 35 anos, grupo no qual se concentra o maior número de patologias da tireoide.   

Considerando que dificilmente alguém consegue palpar nódulos menores que 1 cm, que a maioria dos nódulos descobertos ao ultrassom não são palpados e que a incidência de malignidade é igual em nódulos maiores ou menores que 1 cm, a biópsia - guiada pelo ultrassom e com estudo citológico - é o ‘exame de ouro’ para avaliar o  nódulo  tireoidiano. Ainda assim, é consenso não puncionar nódulos menores que 1 cm, a não ser em situações específicas. Isso porque alguns trabalhos mostram que abaixo deste tamanho, mesmo sendo câncer, a chance de acarretar algum problema à saúde do indivíduo em torno de 10 anos de acompanhamento é de 0,8%.  

As maiores indicações de malignidade no ultrassom são: presença de microcalcificações, hipoecogenicidade do nódulo, bordas irregulares, ausência de halo ao redor do nódulo e diâmetro transverso maior do que o longitudinal (altura > que largura). Para avaliar o nódulo da tireoide não há necessidade do exame com doppler. Este é indicado para avaliar linfonodos ou quando existe precisão de se avaliar as paratireoides.  

Caso haja a presença de nódulo, faz-se necessária também a avaliação da função tireoidiana, com dosagem de TSH, T4 livre, T3 (alguns nódulos, principalmente em áreas de deficiência de iodo, formam mais T3), assim como de autoanticorpos, sendo o mais comum o Anti TPO (para checagem de tireoidite). No caso do TSH suprimido, é preciso ainda realizar cintilografia para diagnosticar nódulos autônomos, que não precisam ser biopsiados. A conduta a ser adotada depende do paciente e da idade, e vai desde cirúrgica – em jovens – ou sem condições cirúrgicas - quando alcoólicos, em tratamento clínico ou mais idosos. 

 

Patrícia Salles é endocrinologista

 


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