José Medrado

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Há um cultivo no Brasil de que nós somos um povo solidário, que nos ajudamos reciprocamente, gerando empatia (quando se coloca no lugar do outro) em momentos difíceis. Em verdade, a cada pesquisa anual da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), em parceria com o Instituto Gallup, divulgada pelo World Giving Index, ranking que mede os principais indicadores de solidariedade em 146 países, o Brasil só vem despencando. Na última rodada, caiu do 75º para o 122º.

Lamentável e triste. E por que revisito este tema? Isso porque a todo instante tenho visto pessoas se referindo as tais lições que a pandemia do novo coronavírus vai deixar para o mundo. Honestamente, aguardo angustiado se alguma mudança efetiva ocorrerá no entranhado egoísmo da natureza humana. Muitos poderão até me questionar: você um religioso, falando assim? Talvez e exatamente por isso, pois lido há 42 anos com trabalhos beneficentes e vejo as empolgações se desvanecerem como fogo de palha, diante das primeiras dificuldades.

         As pessoas, em geral, se movimentam quando o noticiário enfoca alguma grande tragédia, aí, sem dúvidas, a mobilização é impressionante...pessoas arrecadam roupas, alimentos, gêneros para higiene...vimos isso não faz muito com os rompimentos das barragens de Brumadinho e Mariana. Exemplo rápido: você que me honra com sua leitura destas despretensiosas considerações, sabe em que situação se encontram os desabrigados e familiares dos mortos dessas tragédias? Certamente que não, mas não se culpe...infelizmente ainda somos assim.

         Nesses dias de pandemia, a correria pelas farmácias em busca de álcool em gel, luvas, máscaras a ponto tal de faltar para quem realmente precisa, sintetiza a nossa consciência cidadã. E bastou falar do tal remédio hidrocloroquina para o povo correr em busca, sem menor preocupação com os doentes crônicos que precisam usar esta medicação permanentemente, como os portadores de lúpus...e daí? A solidariedade brasileira é um mito, que o tempo está se encarregando de desvanecer, de esfarelar. Talvez esteja incluso neste processo a falta de cidadania, a contaminação, aí sim vertical, do mundo dos poderosos que partem do princípio da tal farinha e o seu pirão.

         Dessa forma, ao passarmos por esta borrasca que passaremos, a que pena só o tempo dirá, vamos voltar infelizmente ao mesmo egocentrismo de sempre, mas ainda sim, torço para que eu esteja completamente errado.


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