Vivemos tempos em que a velocidade da informação não encontra paralelo com a profundidade da reflexão. Em meio a julgamentos apressados, polarizações histéricas e redes sociais que mais inflam do que esclarecem, torna-se urgente retomar um princípio civilizatório básico: o exercício da lógica e da razão na leitura da realidade. Não se trata de mera frieza intelectual, mas de uma postura ética que busca compreender, antes de condenar; dialogar, antes de descartar.
O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, em sua “Teoria do Agir Comunicativo”, defende que o entendimento mútuo é o objetivo do diálogo verdadeiro. Para ele, o espaço público deve ser construído a partir de argumentos racionais e acessíveis a todos, onde os participantes se colocam em igualdade para alcançar consensos. Habermas alerta que, quando deixamos de valorizar a razão, abrimos espaço para a manipulação, o ruído e a dominação simbólica. Já o francês Edgar Morin nos convida à complexidade. Para ele, a realidade não pode ser compreendida por simplificações binárias — o bem contra o mal, os certos contra os errados —, mas exige uma visão integradora, sensível às contradições e aos contextos. A razão, nesse sentido, não se opõe à emoção ou à ética; ao contrário, se fortalece ao dialogar com elas.
Outro nome fundamental nesse debate é o sociólogo Zygmunt Bauman. Ele enxergava na liquidez das relações modernas um risco: a fragilidade dos vínculos, inclusive com a verdade. Ao dissolver compromissos éticos com o outro em nome do ego, da performance ou da viralização, vamos corroendo o tecido do diálogo. Bauman acreditava que o diálogo autêntico só é possível quando se estabelece um solo comum de respeito — tanto ao outro quanto a si mesmo. É nesse ponto que entra um aspecto muitas vezes negligenciado: o autorrespeito. Dialogar não é submeter-se, tampouco agredir. É colocar-se diante do outro com firmeza e abertura, mantendo a coerência com os próprios valores, mas com humildade para revê-los à luz de argumentos consistentes. O autorrespeito é o antídoto contra o ressentimento e a passividade: permite reconhecer limites, recusar ofensas e, ao mesmo tempo, não precisar calar o outro para se afirmar.
O mundo está repleto de opiniões, mas carente de escuta. Há vozes, mas pouca conversa. E onde não há razão, o grito toma o lugar do argumento. Por isso, é imperativo que, como sociedade, nos reconectemos com a lógica, a razão e o diálogo. Não por uma questão de estilo ou erudição, mas de sobrevivência democrática. Pensar com clareza, ouvir com atenção e falar com respeito são os pilares de uma convivência possível em tempos de confusão.
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