Nessa minha visita à Europa, um sentimento tem me atravessado com frequência: o da observação crítica sobre o impacto do turismo em massa. Ao andar pelas ruas históricas de cidades do Velho Mundo, fica evidente que há uma espécie de “invasão” silenciosa acontecendo — a presença massiva de turistas, como eu, transformando radicalmente o cotidiano local.E não se trata aqui de uma crítica infundada ou do lugar da ingratidão. Sabemos, e é indiscutível, que o turismo é uma fonte poderosa de receita para esses países. Os próprios governos europeus incentivaram, por décadas, a ampliação desse setor — campanhas internacionais, facilitação de vistos, infraestrutura voltada à recepção estrangeira. Tudo isso para gerar emprego, movimentar a economia, divulgar a cultura local. E funcionou. Mas, como em tudo que cresce desordenadamente, começam a surgir os efeitos colaterais. Conversando com alguns nativos e simplesmente observando o ambiente, percebe-se, aqui e ali, um certo incômodo. O transporte público abarrotado não apenas em horários de pico, os centros históricos transformados em vitrines para selfies, os preços inflacionados para os moradores locais, e um certo ar de cansaço nos rostos de quem tenta manter sua rotina entre multidões de visitantes ansiosos.
E aí me coloquei no lugar deles. Imagine viver em um bairro onde, diariamente, milhares de pessoas passam fotografando sua janela, ocupam o café onde você tomava o desjejum em silêncio, lotam as calçadas por onde você levava seu filho à escola. É compreensível a resistência que começa a se formar. Não se trata de xenofobia ou rejeição ao outro — é apenas o peso de uma convivência forçada, constante, onde o espaço íntimo da cidade vai se diluindo no espetáculo turístico. Isso tudo me leva a refletir sobre a necessidade de se repensar o turismo, não no sentido de barrá-lo, mas de humanizá-lo. Torná-lo mais respeitoso, equilibrado, menos predatório. Que possamos, como visitantes, nos perceber como hóspedes temporários, e não como donos do lugar. Que caminhemos com reverência por ruas que, antes de tudo, são morada de alguém.
O mundo é vasto e belo, e a troca entre culturas é uma das maiores riquezas da humanidade. Mas que ela seja feita com delicadeza, com consideração, e com o senso de que viajar não é só tirar fotos — é também compreender, mesmo que por instantes, o outro lado da história.