José Medrado

Parece incrível, até mesmo surreal, como se estivéssemos vendo algum filme de ficção, quando alunos do 1º ano da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo denunciam o professor Ronald Sergio Pallotta Filho, que durante uma aula online na última terça(6), usou uma máscara preta para ensiná-los como se relacionar com pacientes pobres nos consultórios médicos. O médico veio a público pedir desculpas. Infelizmente, o que se notabiliza em posturas bizarras como esta é uma total falta de empatia, para dizer o mínimo, pois em verdade se nota a ridicularização da pobreza, em especial a pobreza negra, em um processo de banalização, como se estivesse falando de algo banal, natural.  Vemos, assim, o que de fato é um racismo estrutural. Exatamente isto: a naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Tão natural que quem o pratica não se dá conta do que está fazendo, em alguns casos.  
O racismo estrutural infelizmente, é fato, faz parte integrante do meio social, onde só por ser negro, o cidadão já é seguido, revistado em lojas...São ações conscientes e inconscientes, e que nós, como sociedade, vamos, tristemente,  aceitando, como que nos acostumando,  naturalizando a violência contra pessoas negras, apenas por serem negras, como se fossem subclasse.
Constatamos ainda que, ao lado de toda a agressão direta e indireta que pessoas sofrem por serem negras, mesmo sendo a maioria da população que se declara negra,  no ano de 2019, 65% dos brasileiros. Vemos ainda a tal infeliz naturalização na linguagem, nos costumes até na composição dos Poderes de Estado. Alguns estudiosos defendem que Nilo  Peçanha foi o primeiro (e até agora único) presidente negro do Brasil. Um país que possui mais da metade de sua população negra, só elegeu um presidente da mesma etnia. Não parece razoável, sobretudo quando se levantam  teorias de merecimentos, lutas pessoais, mas como esperar igualdade de condições, quando no ato da tal abolição os negros foram jogados nas ruas, sem terra, sem renda e precisavam alimentar suas famílias, sobreviverem? Como esses descendentes iriam ter as mesmas condições de igualdade para quem navegou pela vida por calmos mares?
A verdade é que não nos damos conta, porque não desenvolvemos o sentido de compaixão, colocando-nos no lugar dos outros. Alguns dirão: eu não sou racista, inclusive tenho muitos amigos negros. É pouco, não sermos racistas, precisamos ser antirracistas.
 


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