Quando a política tenta justificar o crime

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Quando a política tenta justificar o crime

A prisão do secretário de Saúde de Curruvelândia (MT), Roberto Serenini, flagrado em Cuiabá com 52 kg de cocaína em um micro-ônibus da saúde, não é apenas mais um escândalo político. O que chama atenção é a reação de parte da população: admiradores de um partido político tentando justificar ou minimizar um crime grave. Esse fenômeno revela como a noção de certo e errado está sendo corroída por paixões ideológicas.

A filosofia alerta contra confundir lealdade partidária com justiça. Immanuel Kant ensinava que uma ação só é moral se puder ser universalizada sem contradição. Transportar drogas em veículos da saúde jamais poderia ser considerado legítimo, nem comparar com outro crime, como vimos nas manifestações de aliados do partido do político. Não podemos compensar crimes uns com os outros. Crime será sempre crime. Aristóteles, na Ética a Nicômaco, defendia a phronesis, a prudência prática, essencial para discernir o bem do mal. Quando a prudência é substituída pelo fanatismo, perdemos a capacidade de enxergar o crime em sua dimensão real. Hannah Arendt, ao analisar a banalidade do mal, mostrou como pessoas comuns podem justificar injustiças escondidas atrás de ideologias. Tentar relativizar o tráfico em nome de lealdade política é exatamente isso: banalizar o mal.

Além do aspecto filosófico, há uma questão social preocupante. Normalizar crimes mina a confiança nas instituições e na política. Quando líderes e cidadãos relativizam atos criminosos, cria-se um ambiente em que corrupção, violência e impunidade se tornam aceitáveis. Isso não é apenas imoral: é perigoso para a democracia.

Também é um alerta sobre educação e ética. Formar cidadãos conscientes exige ensinar a refletir criticamente sobre certo e errado, independentemente de convicções partidárias. Sem essa base, a sociedade transforma comportamentos criminosos em “excessos toleráveis”, apagando limites entre legalidade e ilegalidade, justiça e injustiça.

Por fim, o caso revela a urgência de recuperar a sensatez na política e na vida pública. A razão, a prudência e a busca pelo bem comum devem prevalecer sobre o sectarismo e o fanatismo.

Somente assim podemos preservar a confiança na justiça e na ética, evitando que episódios como este se tornem exemplos do que seria aceitável, quando, na verdade, deveriam ser condenados por todos.

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