Apesar de avanços, Bahia fica atrás na média do Ideb e reforça debate sobre qualidade educacional
Conselheiros de educação destacam importância de novas métricas e pilares de fortalecimento

Foto: Carol Garcia/GOVBA
Apesar de um crescimento mínimo no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2023, a Bahia continua apresentando desempenho abaixo da média nacional em quase todas as etapas da educação básica. Há dois anos, o estado alcançou 5,3 pontos nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º), resultado que representa um avanço de 0,3 pontos a mais do que a meta estabelecida para o estado no primeiro ciclo do ldeb, entre 2007 e 2021. Ainda assim, o resultado foi o pior entre os estados do Nordeste.
Nos anos finais (6º ao 9º) do ensino fundamental, a Bahia registrou 4,2 pontos e no ensino médio, 3,9 pontos, ficando abaixo da meta do Ideb projetada para o estado nas duas etapas de ensino.
A estagnação nos índices e a diferença em relação à média do país levantam questionamentos sobre os fatores que ainda limitam a qualidade da educação no estado. Ao Farol da Bahia, a professora Cleunice Rehem, conselheira do Conselho Nacional de Educação e presidente da Associação Brasiltec, apontou para a necessidade de fortalecer um conjunto de medidas relevantes, como o processo de alfabetização e o incentivo a concursos públicos para professores, usando como exemplo o município de Sobral, no Ceará.
“Uma das primeiras decisões que Sobral tomou no ano 2000 foi alfabetizar todos os alunos até o segundo ano do ensino fundamental. Todos os alunos seriam alfabetizados, você sabe que o índice de analfabetismo na própria educação formal, no ensino médio, é muito alto. E aí, se a criança não se alfabetiza, não lê, não escreve até os dois anos, quantas dificuldades ela terá que percorrer a partir do terceiro ano, né? Porque o terceiro ano não é mais para alfabetizar, os professores não estão mais voltados para a alfabetização [...] então, a taxa de abandono é muito alta no ensino fundamental por conta dessas deficiências nos anos iniciais do ensino fundamental”, explicou.
A professora chamou atenção ainda para a estratégia de incentivo financeiro a professores municipais, diretores e ao pessoal de apoio das escolas que tiveram os melhores resultados ao final de cada ano, a utilização de materiais didáticos bem estruturados e a capacitação de professores de forma permanente.
Destaque ao Enem
Para Roberto Gondim, presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia, embora seja um indicador importante, o Ideb se tornou obsoleto diante das novas demandas educacionais do país nos últimos 15 anos.
“Na prática, o IDEB deixou de refletir a verdadeira qualidade da educação básica. Eu justifico essa minha digressão para a gente pensar assim, tem muitas redes de ensino, municipal, escolas privadas, redes estaduais, que eles passaram a tratar o índice como um fim em si mesmo [...] Porque ele foi ranqueado, porque ele foi comparado em realidades diferentes, a gente muitas vezes está comparando chuchu com mamão”, avaliou.
Gondim defende que, hoje, o indicador que melhor reflete a qualidade da educação básica no Brasil é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “O Enem é um grande desafio, porque ele contempla uma abordagem mais abrangente, interdisciplinar e conecta as competências do século XXI, porque a ele é cobrado todas as dimensões de conhecimentos que a realidade da escola impõe", afirma Roberto Gondim.
"Então, eu acredito que se a gente quiser avançar na direção de uma escola mais justa, mais democrática, transformadora, é urgente repensar o Ideb e ir pensando mesmo em valorizar o conhecimento significativo, ampliado, com pluralidade e com foco principalmente na cidadania", completa.
Nesse sentido, Roberto Gondim revelou grandes expectativas para o novo formato do Ideb, que prevê a abordagem de desigualdades entre estudantes e a definição e incorporação, no cálculo da nota, de padrões desejados de desempenho.