Brasil avança em ranking de competitividade, mas desempenho estrutural segue fraco
Alta foi impulsionada por fatores conjunturais, como investimento estrangeiro e geração de empregos, mas país ainda enfrenta gargalos em educação, produtividade e custo do capital

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O Brasil está na 58ª posição entre 69 nações avaliadas no ranking global de competitividade. Apesar de ter subido quatro posições, o país continua entre os últimos no levantamento feito pelo Institute for Management Development (IMD), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC).
As informações foram divulgadas pela CNN Brasil neste sábado (22).
A pesquisa revela que a melhora se deveu a fatores conjunturais, como a alta do investimento direto estrangeiro e da geração de empregos. No entanto, o Brasil ainda está longe de realizar reformas estruturais que sustentem o desenvolvimento a longo prazo.
"Subir no ranking é uma boa notícia, mas, do ponto de vista estrutural, não há o que comemorar. O Brasil ainda precisa enfrentar desafios profundos para ser competitivo de verdade", disse Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da FDC, em entrevista coletiva na segunda-feira (16).
O Brasil teve o melhor desempenho na categoria de performance econômica (30º lugar), estimulado pelos indicadores de fluxo de investimento direto estrangeiro (5º), crescimento de longo prazo do emprego (7º), atividade empreendedora em estágio inicial (8º) e participação em energias renováveis (5º).
Contudo, continua nas últimas posições em áreas como educação básica (69º), habilidades linguísticas (69º), produtividade da força de trabalho (67º), mão de obra qualificada (68º) e custo de capital (69º).
"O Brasil está crescendo com o apoio de setores tradicionais, como o agronegócio e a mineração, mas falta qualidade nesse crescimento. Sem força de trabalho qualificada, tecnologia e inovação, não vamos sustentar esse avanço no longo prazo", disse Tadeu.
"Houve uma melhora em indicadores conjunturais, como renda per capita, formação bruta de capital e investimento industrial. Mas são movimentos de curto prazo, que não garantem continuidade. Competitividade se constrói com políticas públicas de longo prazo, e não com medidas emergenciais", continuou.
Ainda segundo ele, países que estão no topo do ranking, como Suíça (1º), Cingapura (2º), Dinamarca (4º) e Taiwan (6º), possuem características essenciais, como abertura comercial, estabilidade regulatória, sistema educacional de excelência e estratégias de transferência de conhecimento entre universidades e o setor produtivo.
"Esses países têm uma visão de futuro. O Brasil, por outro lado, continua reagindo às circunstâncias com medidas fragmentadas. Se não enfrentarmos nossos gargalos estruturais, como o custo do capital e a baixa qualificação, vamos continuar presos ao que a economia chama de voo de galinha", afirmou.
Descompasso
Tadeu disse que o Brasil continua indo na contramão das maiores economias competitivas ao aumentar impostos. O recente aumento do IOF e a alta da carga tributária, de acordo com ele, tornam o ambiente de negócios mais hostil e repelem investimentos.
Caminhos possíveis
Para reverter esse cenário, Tadeu acredita que diminuir o custo do capital deve ser o foco. Isso inclui a simplificação do sistema tributário, a garantia de um ambiente regulatório mais estável e a oferta de previsibilidade para investidores.
Ele salienta ainda a importância de investir na qualificação da mão de obra, sobretudo nas médias empresas, e de organizar lideranças para conduzir a transformação digital. "O mundo já surfa ondas tecnológicas, e o Brasil precisa formar profissionais capazes de acompanhar esse ritmo."
Contudo, Tadeu afirma que é necessário ir além: "O Brasil tem potencial, mas precisa deixar de ser apenas uma promessa. Crescimento sustentável exige estratégia, educação e inovação."