Cautela do Copom nos juros contribui para queda da inflação, e estratégia atual é adequada, diz ata
No documento, o colegiado do BC disse que vem ganhando mais confiança no processo de desinflação e que tem alterado sua comunicação nesse sentido

Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
NATHALIA GARCIA
A postura cautelosa do Copom (Comitê de Política Monetária) na condução dos juros tem contribuído para a queda da inflação, e a estratégia de manter a taxa básica (Selic) estacionada em 15% ao ano, por período bastante prolongado, é adequada para a convergência à meta, mostra ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (16).
No documento, o colegiado do BC disse que vem ganhando mais confiança no processo de desinflação e que tem alterado sua comunicação nesse sentido. Apesar de reconhecer a evolução do cenário, seguiu defendendo maior firmeza e evitou sinalizar seus próximos passos. Enquanto uma parcela do mercado financeiro espera redução de juros em janeiro de 2026, outra fatia aposta em início de cortes em março.
"O Comitê reforçou que a estratégia seria de manutenção da taxa de juros por período bastante prolongado. Num primeiro momento, debatendo se tal taxa era suficiente, depois julgando que tal taxa era suficiente, e, nesta reunião, concluindo que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta", afirmou.
Na última quarta (10), o Copom manteve a taxa básica de juros em 15% ao ano pela quarta reunião seguida, fechando 2025 com a Selic no nível mais alto em quase duas décadas. O colegiado do BC optou por uma postura mais conservadora, apesar da pressão do governo por cortes, e empurrou a queda da Selic para 2026, ano eleitoral.
"O Comitê avalia que a condução cautelosa da política monetária tem contribuído para se observar ganhos desinflacionários e, mais uma vez, reafirma o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta", disse na ata.
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação recuou de 4,6% para 4,4% para este ano, dentro do limite superior da meta, e caiu de 3,6% para 3,5% para 2026. Para o segundo trimestre de 2027, a estimativa se aproximou do centro do alvo, de 3,3% para 3,2%.
A meta central é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. No modelo de avaliação contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora da margem, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O primeiro estouro do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no novo formato ocorreu em junho.
O comitê observou que os dados mais recentes de inflação têm indicado uma dinâmica mais favorável do que se previa no início do ano. O IPCA desacelerou a 4,46% no acumulado em 12 meses até novembro e voltou a ficar abaixo do teto da meta perseguida pelo BC, o que não acontecia desde setembro de 2024.
De acordo com o Copom, a combinação de um câmbio mais apreciado e de preços de commodities mais comportados contribuiu para queda da inflação de bens industrializados e alimentos.
A inflação de serviços também apresentou "algum arrefecimento", mas seguiu mais resiliente devido ao dinamismo do mercado de trabalho e da moderação gradual da atividade econômica.
"Mantém-se, de um lado, a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista [capaz de esfriar a economia] por um período bastante prolongado e, de outro, a interpretação de que a política monetária tem contribuído de forma determinante para a desinflação observada", afirmou.
O comitê reconheceu a melhora nas expectativas de inflação, mas ponderou que elas permanecem acima da meta perseguida pelo BC em todos os intervalos de tempo. "Perseverança, firmeza e serenidade na condução da política monetária favorecerão a continuidade desse movimento", disse.
Houve ainda um debate entre os membros do colegiado do BC sobre o grau de aquecimento do mercado de trabalho, visto que a taxa de desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos -5,4% no trimestre encerrado em outubro, menor nível da série histórica iniciada em 2012.
A conclusão foi que "há sinais incipientes de desaquecimento [do mercado de trabalho] e que a compreensão da separação entre fatores conjunturais e estruturais deve continuar a ser aprofundada, à luz de evidências que necessitam de tempo para uma análise mais robusta."
Quanto à atividade econômica doméstica, mencionou a moderação no crescimento indicada pela divulgação mais recente do PIB (Produto Interno Bruto) e pela queda no consumo das famílias, que até então vinha em ritmo forte em função dos ganhos reais de renda.
Ressaltou também que o esfriamento da demanda é essencial ao trabalho do BC para reduzir a pressão sobre os preços e ajudar a levar a inflação à meta.
Em relação ao cenário externo, o comitê afirmou que, embora ainda existam muitos riscos no radar, hoje há menor incerteza em comparação com meses atrás, com o fim do apagão de dados do governo dos Estados Unidos e a evolução das negociações comerciais. Em novembro, os americanos retiraram a sobretaxa de 40% sobre produtos importantes da pauta exportadora brasileira, como carne e café.
Para o Copom, os vetores que afetam a inflação continuam "adversos", o que requer juros altos por um longo período.
À frente, disse que seguirá acompanhando o ritmo da atividade econômica, que afeta sobretudo a inflação de serviços, e as expectativas de inflação, que seguem longe da meta e são determinantes para o comportamento dos preços futuros. Além disso, mencionou que segue atento ao repasse do câmbio para a inflação, ao balanço de riscos e à dinâmica da inflação corrente.
O Copom volta a se reunir nos dias 27 e 28 de janeiro de 2026, no primeiro dos oito encontros previstos para o ano que vem, com desfalques.
Com o fim dos mandatos dos diretores Diogo Guillen, de Política Econômica, e Renato Gomes, de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, em 31 de dezembro, o primeiro encontro de 2026 terá participação de sete dos nove membros do colegiado do BC.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu deixar para 2026 a indicação dos dois novos nomes para a cúpula do BC diante do clima conturbado entre o Executivo e o Senado desde que Lula indicou Jorge Messias ao STF (Supremo Tribunal Federal) e o prazo apertado até o fim do ano legislativo, no próximo dia 22.


