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Centenário de Mãe Stella de Oxóssi: a trajetória da ialorixá baiana que se tornou referência na luta contra o racismo religioso

Imortal da Academia de Letras da Bahia, Mãe Stella completaria 100 anos nesta sexta-feira (2); lançamento de instituto marca celebrações pelo centenário da líder religiosa

Por Bélit Loiane
Ás

Atualizado
Centenário de Mãe Stella de Oxóssi: a trajetória da ialorixá baiana que se tornou referência na luta contra o racismo religioso

Foto: Manu Dias / GOVBA

Há exatos 100 anos, nascia em Salvador, Maria Stella de Azevedo Santos, aquela que o Axé consagrou como Mãe Stella de Oxóssi. A ialorixá que fez da fé um ato de liberdade. Defensora incansável do candomblé em sua essência, sem sincretismos, Mãe Stella tornou-se uma das mais importantes lideranças religiosas do país e referência na luta contra o racismo religioso.

Nesta sexta-feira (2), o centenário de Mãe Stella será celebrado na Academia de Letras da Bahia (ALB), com o lançamento do Instituto Mãe Stella de Oxóssi - projeto que carrega o compromisso de manter vivo o legado social e cultural deixado por ela.


Farol da Bahia

Iniciada no candomblé aos 14 anos, no Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi trilhou um caminho que ultrapassou os muros do terreiro. Enfermeira por formação e autora de nove livros, ela foi a primeira ialorixá do Brasil a ocupar uma cadeira em uma Academia de Letras. Reconhecida pela profundidade de seus conhecimentos religiosos, mas também pelo trabalho incansável em defesa da cultura negra.

Ao longo de mais de quatro décadas à frente do Opô Afonjá, no bairro de São Gonçalo do Retiro, Mãe Stella construiu pontes, mas também ergueu barreiras contra a intolerância e o apagamento das religiões de matriz africana. Logo no início de sua liderança, foi criada a Escola Eugênia Anna dos Santos, instituição dedicada a educar crianças a partir dos valores das heranças africanas.

Uma das maiores marcas de Mãe Stella foi a crítica pública ao sincretismo religioso — prática de associar orixás a santos católicos, herdada dos tempos de perseguição e que, para ela, precisava ser revista em nome do respeito às raízes africanas. Nos anos 80, Mãe Stella defendeu publicamente que orixá não era santo católico e que as tradições de matriz africana mereciam ser reconhecidas por si. Sua posição ganhou a adesão de grandes casas como o Gantois e o Alaketu, com o apoio de líderes como Mãe Menininha e Mãe Olga. Ainda assim, foi no Opô Afonjá e em casas menores que a separação entre os ritos se concretizou de fato.

Outra conquista histórica de sua gestão foi o tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá como patrimônio cultural nacional, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1999. Um feito necessário para assegurar a proteção de um dos terreiros mais antigos e respeitados do país, que, nas palavras de Mãe Stella, “representa a memória e a resistência do povo negro”.


Divulgação

Em vida, recebeu os mais importantes títulos e honrarias baianas e nacionais. Foi doutora honoris causa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), além de ter sido agraciada com a Comenda Maria Quitéria, a Ordem do Mérito do Ministério da Cultura e a Ordem do Cavaleiro, do Governo do Estado.

Além de sacerdotisa, Mãe Stella foi uma intelectual pública, autora de artigos e livros, colunista e responsável por aproximar o grande público dos fundamentos do candomblé sem abrir mão de suas particularidades. “Meu tempo é agora” e “Òsósi — O Caçador de Alegrias” estão entre as suas principais obras.

A ialorixá está viva no respirar de Salvador. Seu nome batiza uma das avenidas da cidade, ligando a Avenida Paralela ao bairro de Stella Maris, tem a imagem reverenciada  em um monumento instalado no local.


Valter Pontes/ Secom

Em 2017, um ano antes de sua morte, ela lançou um aplicativo e um canal no YouTube para divulgar saberes ancestrais, mensagens de fé e conteúdos sobre a cultura iorubá, mostrando-se sempre conectada com o tempo em que vivia.

Mãe Stella partiu em dezembro de 2018, aos 93 anos, deixando o exemplo de uma vida dedicada ao cuidado, à memória e à luta contra o racismo religioso. Seu nome segue entrelaçado à história da Bahia e às vozes que, ainda hoje, reivindicam respeito e espaço para as religiões de matriz africana.

Lançamento do instituto 

Nesta sexta-feira (2), o Palacete Góes Calmon, sede da ALB, recebe familiares, amigos e admiradores para celebrar o centenário da ialorixá.

Na ocasião, será lançado oficialmente o Instituto Mãe Stella de Oxóssi, que terá como foco atividades culturais, educacionais e sociais voltadas a crianças, mulheres e famílias em situação de vulnerabilidade. O instituto será presidido por Adriano Azevedo, sobrinho de Mãe Stella. 

Em celebração ao centenário de Mãe Stella de Oxóssi, o Podomblé, podcast da FB Comunicação comandado por Adriano, realizou um episódio especial sobre o impacto da ialorixá na cultura afro-brasileira. Entre os convidados estão Suely Melo de Oxum, Muniz Sodré, Ed Ribeiro e Thereza Azevedo. Assista: 

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