China avalia investir em Fundo de Florestas idealizado por Brasil por meio de banco
O país tem se apresentado como uma das lideranças no combate à crise climática

Foto: Ricardo Stuckert/PR
A China ainda estuda formas de fazer um investimento no TFFF (Fundo das Florestas Tropicais Para Sempre), principal aposta do governo federal durante a COP30, em Belém (PA). O país, que tem se apresentado como uma das lideranças no combate à crise climática, está estudando doações por meio de empresas ligadas ao regime, segundo relatos de fontes de Brasília e Pequim à Folha.
Uma das alternativas estudadas pelas lideranças chinesas é um aporte por meio do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), que tem sede em Pequim e tem o gigante asiático como o principal acionista.
A instituição não tem subordinação formal à China, mas é presidida por Jin Liqun, que atuou durante duas décadas no Ministério do Comércio do país e chegou ao cargo de vice-ministro.
Existe a expectativa que o presidente Lula (PT) trate deste tema com o líder chinês, Xi Jinping. Conforme relatou a Folha, nas negociações com o Brasil a China se esquivou de fazer um aporte sob o argumento das "responsabilidades comuns porém diferenciadas", conceito sob o qual aqueles que mais contribuem para o agravamento do aquecimento global (se beneficiando, por exemplo, da exploração dos combustíveis fósseis) devem também ser os líderes no combate da mudança climática.
Sob essa lógica, os países desenvolvidos (segundo a classificação da ONU) deveriam assumir o protagonismo em prol das nações consideradas "em desenvolvimento" ou de economia menor, onde vivem justamente as populações mais vulneráveis aos efeitos desta nova realidade.
No regime da UNFCCC (o braço climático das Nações Unidas), os países devem fornecer suporte técnico e financeiro aos em desenvolvimento. E neste contexto, os chineses vivem uma encruzilhada, que explica a reticencia em investir no Fundo de Florestas.
Isso porque a China é hoje o principal poluente do mundo (historicamente, ainda fica atrás dos Estados Unidos) e a segunda maior economia do planeta, mas ainda guarda o status de país "em desenvolvimento" pela categorização da ONU. Isso faz com que os chineses, apesar de serem os principais investidores em transição energética no mundo, resistam a tomar a dianteira em iniciativas como a do Fundo de Florestas.
Segundo pessoas que atuam nessa negociação, o argumento da diplomacia de Pequim é que este movimento precisa começar justamente pelos países considerados ricos sob a ótica da ONU os europeus ou os EUA, por exemplo.
O Brasil contra-argumenta que, apesar do Fundo de Florestas ter sido pensado para beneficiar as nações em desenvolvimento, ele não prevê que os investimentos venham exclusivamente daquelas já desenvolvidas. Lula, por exemplo, foi o primeiro a anunciar um aporte no mecanismo, de US$ 1 bilhão.
Um dos objetivos, segundo integrantes da diplomacia, foi tentar incentivar outros países a fazer o mesmo, justamente pelo fato de que o Brasil é um país em desenvolvimento. Logo após o Brasil, a Indonésia, também uma nação de economia menor, foi a segunda a prometer um investimento no TFFF.
E só depois vieram os países europeus: Noruega, França e, mais recentemente, Alemanha em que pese ainda não estar claro, neste último caso, como se dará esse aporte de recursos. Até agora, o Brasil conseguiu investimentos nacionais que totalizam cerca de US$ 6,7 bilhões para o Fundo de Florestas.
A meta é que o TFFF chegue a US$ 125 bilhões, dos quais 20% viriam idealmente de fundos soberanos de países. Essa fatia inicial funcionaria como uma espécie de lastro de segurança para que o restante dos recursos seja mobilizado no mercado financeiro. A proposta parte da ideia de que as florestas tropicais ajudam a regular o clima do planeta e, por isso, os países que conseguem mantê-las em pé devem ser remunerados.
O fundo opera como um veículo financeiro tradicional: paga dividendos aos seus investidores (algo entre 4% e 5,5%), e destina o excedente (calculado em cerca de 3%) dos retornos aos países com cobertura florestal tropical o que, nas estimativas dos técnicos, deve significar US$ 4 (R$ 21) por hectare preservado. Críticos dizem que o TFFF é baseado em projeções otimistas demais, e que há grandes chances desse cenário não se concretizar.


