• Home/
  • Notícias/
  • Política/
  • Congresso defende cortar subsídios por volume 'insuportável', mas amplia incentivo bilionário ao esporte

Congresso defende cortar subsídios por volume 'insuportável', mas amplia incentivo bilionário ao esporte

A lei de incentivo ao esporte permite abater do imposto de renda doações para iniciativas esportivas

Por FolhaPress
Às

Atualizado
Congresso defende cortar subsídios por volume 'insuportável', mas amplia incentivo bilionário ao esporte

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O Congresso e o governo Lula (PT) criticam o excesso de subsídios tributários e passaram a defender um corte nos benefícios como alternativa a iniciativas de aumento de impostos, mas a primeira medida concreta após encamparem esse discurso foi aprovar um projeto de lei que torna permanente e ainda amplia um incentivo bilionário para fomento ao esporte no país.

As sessões da Câmara e do Senado em que o projeto foi aprovado seguiram o padrão para esse tipo de ocasião no Congresso. Ex-atletas hoje à frente de ONGs e entidades esportivas foram ao plenário, posaram para fotos com os parlamentares e foram saudados nos microfones, com elogios a sua atuação e discursos de que esta política pública é essencial. O governo apoiou integralmente a proposta.

A lei de incentivo ao esporte permite abater do imposto de renda doações para iniciativas esportivas. Para as pessoas físicas, o desconto é limitado a 7%. Para pessoas jurídicas, o abatimento será mantido nos atuais 2% até 2027 e aumentará para 3% a partir de 2028. Se o projeto tiver cunho social, o limite para as empresas será de 4%.

O benefício possibilitou o desenvolvimento de projetos sociais e ajudou esportes olímpicos e paralímpicos brasileiros, mas também já foi alvo de operações da Polícia Federal por supostos desvios e do Tribunal de Contas da União, pela dificuldade do governo de aferir o cumprimento das metas pactuadas.

Essa política consumiu R$ 6,7 bilhões desde que foi criada, em 2006, dos quais R$ 1,2 bilhão apenas no ano passado. O governo federal vai abrir mão de R$ 543,7 bilhões em 2025 com todos os benefícios tributários concedidos a empresas e pessoas físicas, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que o volume pode chegar a R$ 800 bilhões e defende um corte de 10% nesses benefícios.

Embora grande parte do Congresso já tenha dado declarações a favor desse corte, quase ninguém comentou, durante as sessões em que a Lei de Incentivo ao Esporte foi aprovada, sobre o volume excessivo de subsídios existentes no país e a necessidade de reduzi-los.

O único foi o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). "O Brasil viveu durante muito tempo e vive ainda uma farra das isenções", disse. Mas ponderou que esse não seria o caso do incentivo ao esporte, pelo "elevadíssimo" alcance social. "Há um entendimento da importância do projeto."

Nem mesmo o partido Novo, que costuma cobrar responsabilidade fiscal nesses casos, votou contra. A legenda foi representada no plenário pelo deputado Luiz Lima (RJ), ex-atleta olímpico, que citou inclusive a possibilidade de o benefício ser extinto em caso de déficit do governo em 2026. "Não podemos deixar que o esporte deixe de ser um pilar de educação e inclusão", afirmou.

A extinção do benefício poderia ocorrer porque o Congresso aprovou em dezembro lei que proíbe a prorrogação ou ampliação de incentivos fiscais caso o governo registre déficit (despesas maiores do que as receitas). Foi parte do pacote fiscal, para garantir a sustentabilidade das contas públicas.

Mas, conforme mostrou a Folha de S.Paulo, a quase totalidade de subsídios que poderiam ser afetados já foi antecipadamente renovada pelo Legislativo ou teve o fim decretado antes dessa lei. Apenas 3,4% dos R$ 17,9 bilhões que tinham vigência até 2026 ainda poderão ser afetados, valor que agora será ainda menor caso o presidente Lula (PT) sancione as mudanças na Lei de Incentivo ao Esporte.

Se a lei do esporte se tornar permanente, os únicos benefícios que podem ser alvo desse bloqueio no atual mandato são a dedução de imposto de renda para quem doar para políticas de combate ao câncer e auxílio a pessoas com deficiência, além do subsídio para leasing (arrendamento) de aeronaves.

À reportagem, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu a votação e afirmou que não dá para tratar igualmente todos os benefícios fiscais. "Em muitos casos, esta é a única forma de apoio ao esporte paralímpico. É uma lei mais do que justificada, tanto que foi aprovada por unanimidade", disse.

Motta ainda destacou que a Câmara negocia com o governo uma proposta de corte nos subsídios e votará também um projeto de lei para reavaliação periódica dos incentivos. "Penso que o Brasil tem hoje um volume excessivo de subsídios e esse projeto ajudará a medir o que é mais eficaz."

O discurso de corte nos benefícios fiscais foi encampado pelo Congresso como contraponto a medidas de alta de impostos a exemplo do decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e também iniciativas de corte de gastos, como os supersalários do funcionalismo público.

Há cerca de um mês, após a reunião entre a cúpula do Congresso e Haddad para discutir alternativas à alta do IOF, os parlamentares defenderam o corte dos incentivos fiscais para ajustar as contas.

Motta afirmou no dia que os subsídios chegaram "a um nível insuportável". "Tivemos a oportunidade de inaugurar um debate, esse, penso eu, de muito mais efeito e muito mais estruturante para o país, que é discutirmos a questão das isenções fiscais", disse.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), destacou que os gastos tributários são o dobro do orçamento da saúde e da educação. "São relevantes, são importantes, em algum momento da história nacional foram importantes termos dado, mas é chegada a hora de nós, de maneira muito equilibrada, enfrentarmos esse debate".

Para o professor Eduardo Grin, do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o Congresso só tem responsabilidade fiscal quando é pressionado pelo mercado financeiro e é muito sujeito a lobbies para aprovar benefícios setoriais. "O Brasil tem uma lógica de que tudo que é incentivo começa provisório e vira permanente", diz.

O governo apoiou a aprovação do projeto. Em nota, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) afirmou que a desoneração "não pode ser vista como gasto, mas como investimento". "Somente no ano passado, mais de 6.600 projetos foram apresentados, impactando mais de 2 milhões de pessoas", disse a pasta. No entanto, ressalvou que a decisão sobre sancioná-lo só será tomada no prazo de 15 dias.

Alcolumbre e a Fazenda foram procurados, mas não comentaram.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário

Nome é obrigatório
E-mail é obrigatório
E-mail inválido
Comentário é obrigatório
É necessário confirmar que leu e aceita os nossos Termos de Política e Privacidade para continuar.
Comentário enviado com sucesso!
Erro ao enviar comentário. Tente novamente mais tarde.