COP30 pode ser a mais excludente da história, criticam ONGs

O Observatório do Clima, rede que reúne mais de uma centena de ONGs ambientalistas, divulgou um comunicado, nesta terça-feira (12), com críticas aos governo federal e estadual sobre a condução da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas, que acontecerá em Belém, em novembro.

Para o grupo, a crise hoteleira causada pelos altos preços para o período do evento monopolizou as discussões, deixando de lado as ameaças de Donald Trump ao clima e à economia global, os recordes de calor no hemisfério Norte e o aquecimento da Terra no rumo de ultrapassar 1,5°C (meta do Acordo de Paris).

"Sem uma solução imediata para a crise, a COP no Brasil arrisca ser a mais excludente da história, com redução no número de delegações nacionais, de membros de órgãos constituintes e outros observadores e da imprensa", diz trecho da carta.

"A negligência do governo federal e do Governo do Pará, que tiveram dois anos e meio para equacionar a questão das acomodações na cidade e não o fizeram, transformaram esse tema numa bomba que explodiu agora, com países pedindo mudança de sede e observadores da sociedade civil dizendo que não terão condições de vir."

Procurados pela reportagem, a organização da COP30 e o Governo do Pará não responderam às críticas até a publicação.

De acordo com a rede, uma conferência esvaziada seria um vexame histórico para o Brasil e uma oportunidade perdida para a humanidade chegar a novos acordos em prol do planeta. Outra preocupação é o possível boicote de países devido os altos preços de hospedagem.

"Uma redução no número de delegados impactaria a própria legitimidade do que for negociado em Belém, dando aos países que não querem ver o Acordo de Paris prosperar a desculpa perfeita para atrapalhar a negociação", afirma.

"O governo teve tempo para construir hotéis e trazer navios, entre outros itens que compõem as necessidades da conferência. Fez menos do que o necessário. Contou com a dedicação e extrema paciência da população local, que agora é cobrada injustamente sobre os preços extorsivos das acomodações", critica também a rede de ONGs.

Em carta, também publicada nesta terça, a presidência da COP30 cobrou união entre países e defendeu a importância de realizar a COP30 no "coração da amazônia". O documento cita grupos "historicamente marginalizados" como as maiores vítimas dos efeitos do aquecimento global e também os principais responsáveis por soluções de resiliência e sobrevivência.

A publicação da carta da presidência já estava planejada desde antes da crise dos preços de hospedagem de Belém atingir um novo patamar.

Como revelou a Folha, dezenas de países -ricos e em desenvolvimento- assinaram uma carta pressionando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a retirar a COP30 de Belém, sob a principal reclamação de que os preços de hospedagem estão muito altos. O argumento é de que países com economias menores não têm condições financeiras de arcar com esse custo.

Ao podcast Café da Manhã, da Folha, Corrêa do Lago admitiu que se o alto preço das hospedagens fizer com que países deixem de vir ao Brasil, os acordos assinados na conferência podem perder credibilidade.

A primeira baixa política, devido os preços, foi de Alexander van der Bellen, presidente da Áustria. Ele declarou à imprensa que não comparecerá na conferência, no Brasil, por "disciplina orçamentária". O país será representado pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Totschnig, e negociadores.

Hotéis de Belém se recusam, há dois meses, a prestar informações ao Ministério da Justiça sobre os preços anunciados para novembro.

Alvos de ação na Justiça do Pará pelos altos preços de hospedagem, os sites de aluguel por temporada, por sua vez, dizem que os valores são atribuídos pelos proprietários que criam os anúncios, enquanto a associação que representa os hotéis defende ter ofertado diárias mais baixas para delegações, a pedido da organização do evento.