Covid19: Com hospitais sem médicos, formandos querem atender e não podem

Internos querem se formar para atuar como médicos na linha de frente da Covid-19

[Covid19: Com hospitais sem médicos, formandos querem atender e não podem]

FOTO: Reprodução

Com o internato hospitalar suspenso desde o início da epidemia da Covid-19 no Brasil, doença causada pelo novo coronavírus, os estudantes do último ano de Medicina de instituições públicas e privadas correm atrás para que o estágio curricular obrigatório nos hospitais sejam retomados e, em seguida, possam concluir o curso e atuar na linha de frente da Covid-19 como médicos. 

O abaixo-assinado, criado no último dia 3 de julho, já possui mais de 560 assinaturas de estudantes de todo o estado da Bahia para que o pedido seja atendido. Encaminhado à Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), em nome do secretário Fábio Vilas-Boas, os universitários pedem uma avaliação da situação, pois compreendem que a inserção dos internos no sistema público de saúde, junto a atuação dos profissionais, serão de grande importância, principalmente para a população. "Neste momento, é de fundamental importância, especialmente, na manutenção das atividades da assistência básica e nos diferentes níveis de atenção à saúde", pontua o texto. Mas, até o momento os estudantes alegam que não obtiveram nenhuma resposta sobre o assunto. 

Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), os estudantes de medicina aguardam uma autorização do Conselho Superior da UFBA (CONSUNI), responsável por decidir e deliberar assuntos que diz respeito à universidade, para que os internos possam retomar as atividades no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), que segundo o estudante José William, que também assinou o documento, já possui todos os equipamentos necessários para atender as demandas dos pacientes, além dos protocolos preventivos para a Covid-19. "Com a pandemia, os internatos de todo o Brasil foram suspensos. Mas, conforme a disseminação foi avançado, foi necessário a atuação de mais profissionais. Então, muitas universidades já retomaram as atividades dos internados, e os estudantes estão na linha de frente da Covid-19 e de outras doenças porque as pessoas não deixaram de infartar, de ter AVC, de precisar de atendimento especializado, como dermatologista, nefrologista e cardiologista", pontuou. 

O interno ainda ressalta que a UFBA tenta um diálogo com o conselho para que as atividades do hospital sejam retomadas e não às aulas presenciais, como foi citada em outros sites. "Isso repercutiu negativamente porque a UFBA está tentando retomar as atividades do internado. Nós temos todos os protocolos, garantia de EPIs [equipamentos de proteção individual] e temos nosso hospital próprio. Não é aula, é prestação de serviço de quase médicos que estão à disposição do trabalho hospitalar. Não é sala de aula", destacou. 

Interior da Bahia

Enquanto os estudantes da UFBA possuem um hospital próprio e aguardam a autorização do conselho, estudantes de medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, que não possuem hospital universitário, solicitam um retorno da SESAB sobre um plano de retorno ao internato, já que a secretaria é a responsável pelas instituições cujos estágios ocorrem. 

Uma estudante do curso de medicina na UESC, que preferiu não ser identificada, contou que soube que a secretaria de Saúde, através de e-mail, entrou em contato com os hospitais dos quais gerencia e solicitou o número de vagas dos setores que pudessem ser ocupados por internos e outros alunos da área de saúde. "A SESAB deu uma data limite até o dia 3 de julho, para que esses hospitais apresentassem suas estimativas de vagas a serem disponibilizadas. Essas instituições informaram à secretaria sobre os números de vagas que iriam precisar, mas até o momento nada foi repassado as universidades", contou. 

"Estar em casa há meses é péssimo, sem uma previsão, vendo o tempo passar e outras universidades brasileiras já com planos de retorno e estratégias. Além de tudo, muitos alunos investiram em cursos extra curriculares já pensando na prova de residência médica para este ano. Mas, se o estágio não voltar, perderemos o ano e a oportunidade de prestar os concursos que, até o momento, estão mantendo suas datas padrão. Vemos pacientes morrendo o tempo todo e a mão de obra de profissionais de saúde se escasseando a cada dia. Poderíamos estar em campo, devidamente equipados, e realizando um trabalho em equipe, mas infelizmente estamos proibidos de atuar", desabafou.

O que diz a SESAB

Procurada pelo Farol da Bahia, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), informou que no início de março os internatos foram interrompidos e que os alunos de medicina reclamaram que não tinham sido convocados para atuar no programa Brasil Conta Comigo, que conseguiu cadastrar 24 unidades de saúde, mas nem todas conseguiram finalizar o cadastro no sistema do Ministério da Saúde para receberem os estudantes convocados. 

A secretaria ainda informou que "pelos dados retirados do sistema do Ministério da Saúde no dia 7 de julho, existem 29 estudantes atuando no programa nas quatro unidades que conseguiram finalizar o cadastro do Brasil Conta Comigo: Hospital Geral Roberto Santos (4 estudantes de Enfermagem), Hospital Estadual da Criança (3 estudantes de Fisioterapia), Hospital do Oeste (4 estudantes de Farmácia, 1 estudante de Enfermagem e 5 estudantes de Medicina) e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jequié (1 estudante de Farmácia, 5 estudantes de Enfermagem e 6 estudantes de Medicina).


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