Cresce o número de jovens com câncer e o intestino pode ser a chave para entender o fenômeno!

Com formação em gastroenterologia, Suzana Viana destaca a relação entre saúde intestinal, dieta inflamatória e desenvolvimento de tumores em adultos jovens

Por Michel Telles
Ás

Atualizado
Cresce o número de jovens com câncer e o intestino pode ser a chave para entender o fenômeno!

Foto: Div

Nos últimos anos, os consultórios médicos vêm recebendo com mais frequência um tipo de paciente oncológico: jovens adultos. O que antes era mais frequente em pessoas com idade avançada, hoje se torna comum já a partir dos 30 anos. Tumores de intestino, mama, estômago e até de próstata estão sendo diagnosticados precocemente e, muitas vezes, em estágios mais agressivos. Para a nutróloga Suzana Viana, é preciso olhar além da genética para entender essa tendência alarmante. 

“O estilo de vida contemporâneo é pró-inflamatório, e isso afeta diretamente a saúde do intestino, um dos principais reguladores do nosso sistema imunológico. Quando ele está em desequilíbrio, o risco de doenças crônicas, incluindo o câncer, aumenta de forma significativa”, alerta.

Um levantamento da BMJ Oncology mostrou que, entre 1990 e 2019, o número de casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% no mundo. No Brasil, dados do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) apontam que, entre 2009 e 2020, a proporção de mulheres com menos de 40 anos diagnosticadas com câncer de mama triplicou, passando de 8% para 22%. 

“Estamos vendo isso de perto, na prática clínica. O padrão alimentar contemporâneo, baseado em ultraprocessados, açúcar, gordura hidrogenada e alimentos pobres em fibras, afeta diretamente a microbiota intestinal — um fator hoje reconhecido como central na prevenção de doenças”, afirma Suzana.

A médica explica que o intestino, quando saudável, exerce papel crucial no controle da inflamação, na produção de hormônios e na sinalização da saciedade. “Uma microbiota equilibrada favorece um sistema imunológico vigilante, capaz de eliminar células anormais antes que elas se transformem em tumores. Por outro lado, uma flora desorganizada, como ocorre na disbiose intestinal, contribui para um ambiente interno propício ao surgimento de células cancerígenas”, explica.

Além disso, o intestino é responsável por boa parte da absorção de nutrientes e da produção de substâncias anti-inflamatórias naturais. Segundo a médica, quadros de inflamação silenciosa e alterações hormonais decorrentes do desequilíbrio intestinal estão entre os principais fatores de risco para tumores em jovens. “Não é à toa que as novas diretrizes já anteciparam, por exemplo, o início da colonoscopia para os 45 anos — uma resposta direta ao aumento dos tumores de cólon e reto em faixas etárias mais baixas”, completa.

Prevenção que começa no prato

Apesar do avanço da medicina, Suzana defende que a prevenção começa no cotidiano, com decisões alimentares mais conscientes. “Alimentos ultraprocessados, como embutidos, salgadinhos, refrigerantes e doces industrializados, promovem inflamação crônica e alimentam bactérias nocivas no intestino. Ao mesmo tempo, reduzem a diversidade da microbiota e comprometem a barreira intestinal, abrindo espaço para doenças”, explica.

Por outro lado, dietas ricas em fibras, vegetais, frutas, cereais integrais e alimentos fermentados são aliadas da saúde intestinal. “Incluir prebióticos e probióticos naturais é uma estratégia simples e poderosa. Banana verde, alho, cebola, aveia, iogurte natural, kefir e kombucha são aliados importantes na modulação da flora intestinal”, orienta.

Além da alimentação, fatores como sedentarismo, estresse crônico e uso indiscriminado de medicamentos também afetam a saúde intestinal e devem ser considerados. “Hoje sabemos que cuidar do intestino é cuidar da saúde como um todo. Inclusive da saúde mental, já que há uma ligação direta entre o intestino e o cérebro”, reforça.

Investigação individual é fundamental

Cada organismo responde de forma única, por isso, a avaliação clínica detalhada é indispensável para um plano de prevenção personalizado. “Precisamos entender como está o intestino, quais são os padrões de sono, alimentação, níveis de estresse, uso de medicamentos e histórico familiar. A partir disso, conseguimos investigar marcadores inflamatórios e orientar uma conduta preventiva realista e eficaz”, afirma.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário

Nome é obrigatório
E-mail é obrigatório
E-mail inválido
Comentário é obrigatório
É necessário confirmar que leu e aceita os nossos Termos de Política e Privacidade para continuar.
Comentário enviado com sucesso!
Erro ao enviar comentário. Tente novamente mais tarde.