Crônica: Inspiração genuína e arrebatadora

O jornalismo, mais do que ofício, às vezes é um despertar à vida

[Crônica: Inspiração genuína e arrebatadora]

FOTO: Divulgação

O jornalismo, mais do que ofício, às vezes é um despertar à vida. As tantas entrevistas, coletivas, reuniões de pauta e as necessárias conversas informais pela redação ou em campo, sempre pinçamos aquilo que nos interessa e transformamos em aprendizado, em alerta e lição de vida. Há anos, entrevistei um projetista mecânico que mudou hábitos e dedicou anos da vida para um sonho, que era também o meu: conhecer a cidade perdida dos Incas, no Peru: Machu Picchu. 

Diariamente, Rodrigo Egea dedicava parte do seu tempo livre à moto Susuki DR 800, que deveria estar pronta, no prazo de um mês, para andar 13 mil quilômetros em 27 dias. O destino era Machu Picchu, no Peru, no entanto, ao sair do Brasil ele cruzaria a Bolívia e, na volta, prolongaria o percurso para incluir a Argentina.

A ideia, me contou numa entrevista, surgiu há quatro anos quando assistiu ao filme “Diários de Motocicleta” (2004), do brasileiro Walter Salles, e que narra a história do ex-revolucionário - mas sanguinário e assassino para outros - Che Guevara, junto ao amigo Alberto Granado em paralelo à viagem ao redor da América do Sul montados numa motocicleta.

O caminho a ser percorrido, no fim, foi diferente, assim como o motivo para enfrentar estradas. 

A princípio, seria com moto bem menor e ele não tinha noção alguma de onde ir e se era possível ir, até conversar com quem já fez esta aventura. A troca de informações foi crucial para ele mudar tudo: do roteiro à moto, só o desejo de encarar a aventura era a mesma. “Estou vivendo por esta viagem”, me contou à época.

Rodrigo transformou o quarto dos fundos em oficina e, devido o conhecimento da profissão de engenheiro, lá adaptou a moto com GPS, construiu bagageiros de alumínio e instalou um sensor de queima de combustível no motor.

Devido ao tempo e diversas conversas para fechar a pautas, entre ligações telefônicas, trocas de mensagens e até uma ida à sua casa para conhecer e fotografar a moto e a oficina, ficamos em contato mesmo após a sua volta.  

Contou-me que pode conhecer diversas cidades brasileiras, Antes de atingir as fronteiras fora do Brasil, e lembra-se bem de Mato Grosso, onde cruzou Cuiabá, Aquidauana e Corumbá, que faz fronteira com a Bolívia. 

Foram cerca de 1.200 quilômetros já no primeiro dia. Por dia, ele pilotou entre 10 a 12 horas, o que viável graças ao preparo físico contra o desgaste do tempo em cima da moto e todo o peso que carregou.  Um mês antes de encarar a estrada, Rodrigo fez academia e corria à noite no condomínio onde mora.

Na bagagem adaptada, entre os itens de viagem tinha um notebook, pelo qual manteve contato com a família e me também me dava umas mostras da aventura. Foi o começo do diário da viagem, que deveria ser lançado na internet, mas nunca aconteceu. 

Além de Machu Picchu, ele realizou o sonho de rodar de moto pela rodovia de Yungas, na Bolívia, considerada uma das vias mais perigosas do mundo, agora é utilizada apenas para turismo; visitou as ilhas flutuantes e a cidade de Cuzco (que era a capital do Império Inca), ambos no Peru.

Mais do que uma reportagem, conheci uma pessoa incrível, com uma paixão arrebatadora pela estrada. Uma inspiração genuína. 


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