De 99 mortos identificados, 78 tinham passagem por crimes graves, diz Polícia Civil do RJ
Nenhum deles, porém, faz parte da lista de suspeitos citados na denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
YURI EIRAS E FRANSICO LIMA NETO - O governo do Rio de Janeiro afirmou nesta sexta-feira (31) que até o momento 99 mortos na Operação Contenção, contra o Comando Vermelho, foram identificados.
Segundo a gestão Cláudio Castro (PL), 40 dos identificados são de outros estados: 13 do Pará, sete do Amazonas, seis da Bahia, quatro do Ceará, um da Paraíba, quatro de Goiás, um do Mato Grosso e três do Espírito Santo.
De acordo com o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil, desses 99 identificados, 42 tinham mandado de prisão pendente e ao menos 78 tinham histórico criminal relevante, como homicídio, tráfico de drogas e organização criminosa.
Nenhum deles, porém, faz parte da lista de suspeitos citados na denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro que baseou a operação, segundo cruzamento feito pela reportagem.
A denúncia levou a Justiça a emitir mandados de prisão contra lideranças do Comando Vermelho na região, como Edgar Alves de Andrade, o Doca. Ele não foi encontrado pela polícia e continua foragido.
Durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (31), o governo tratou todos os 117 suspeitos mortos na operação nos complexos do Alemão e da Penha como "narcoterroristas".
A divulgação acontece três dias após a ação policial mais letal da história brasileira, com 121 mortos — sendo quatro policiais.
Os dados mostram que o Rio de Janeiro abrigava lideranças criminosas de quatro das cinco regiões do país, demonstrando o alcance nacional da atuação do Comando Vermelho, segundo a polícia. Pelo menos um terço dos presos na operação também é de fora do estado.
As informações preliminares apontam que os complexos do Alemão e da Penha funcionavam como centros de comando, tomada de decisão e treinamento tático da facção narcoterrorista, também de acordo com a investigação. Há indícios de que integrantes recebiam instruções de armamento, tiro, uso de explosivos e táticas de combate.
NÚMEROS DA OPERAÇÃO DIVULGADOS PELO GOVERNO DO RIO
117 suspeitos mortos
99 identificados até momento
78 tinham histórico criminal relevante, por crimes como homicídio, tráfico de drogas e organização criminosa
40 eram de outros estados, sendo 13 do Pará, sete do Amazonas, seis da Bahia, quatro do Ceará, um da Paraíba, quatro de Goiás, um do Mato Grosso e três do Espírito Santo
42 tinham mandados de prisão pendentes
As forças de segurança afirmaram que a facção movimentava cerca de 10 toneladas de drogas por mês nessas áreas. Tanto o Alemão quanto a Penha serviriam como polos de abastecimento, distribuindo drogas e armas para outras comunidades controladas pelo grupo criminoso. A investigação mostra ainda que cerca de 50 fuzis eram negociados mensalmente a partir dessas regiões.
As apurações indicam que pelo menos 24 comunidades — entre elas o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, a Rocinha, o Complexo da Maré, o Jacarezinho e o Complexo do Lins — são diretamente abastecidas por esses fluxos.
A Polícia Civil disse estar finalizando documento que reúne a qualificação dos criminosos mortos e uma análise detalhada sobre o papel estratégico dos complexos da Penha e do Alemão dentro da estrutura da organização criminosa.
Curi defendeu mobilização nacional contra o crime. "É preciso que haja uma mobilização nacional no sentido de combate a essa organização criminosa. Importante que a legislação existente, completamente desconectada da realidade, seja atualizada para que as polícias possam dar uma resposta a altura", disse.
Victor Santos, secretário de Segurança Pública, afirmou que não vai ocorrer ocupação militar de favelas, o que não seria solução para o combate ao crime organizado. De acordo com ele, a saída é a retomada dos territórios, plano que estaria sendo construído.
Ele também disse que a Operação Contenção é contínua, uma política pública, que já teve outras fases, e que a ação de terça-feira (28) foi mais uma delas.
Todos os corpos já passaram por perícia, em esquema especial que reuniu a Polícia Civil e o Ministério Público, e 89 foram liberados para retirada pelos familiares, segundo as autoridades.
O trabalho no IML (Instituto Médico Legal) é realizado por peritos da Polícia Civil e acompanhada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que deve elaborar laudos próprios com peritos independentes.
A Defensoria Pública afirmou nesta quinta-feira (30) que pediu para acompanhar as perícias nos corpos recolhidos após a operação nos complexos do Alemão e da Penha, mas que foi negada a entrada no IML.
A entidade argumenta que o acompanhamento faz parte da atuação na ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A Polícia Civil afirmou que o acesso ao IML está limitado a policiais civis e membros do MP.
A OPERAÇÃO
A operação policial tinha como objetivo prender membros do Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade.
A ação e a resposta do Comando Vermelho — que usou armamento pesado e ordenou o fechamento de vias — deixou diversas regiões da segunda maior cidade do país com um cenário de guerra, com caos nas ruas, tiroteios e veículos queimados.
Suspeitos de integrar o Comando Vermelho chegaram a usar drones para lançar bombas contra as equipes policiais e a população da Penha, para atrasar o avanço das forças de segurança durante a manhã desta terça.
A invasão nas comunidades foi considerada um "sucesso" pelo governador Cláudio Castro (PL), que, na manhã de quarta-feira (29), fez um balanço e afirmou que o episódio deixou apenas quatro vítimas, em referência aos policiais que morreram durante o confronto.
A megaoperação policial tinha como objetivo cumprir 70 mandados de prisão de membros do Comando Vermelho em 180 endereços. Segundo o governo estadual, 113 pessoas foram presas na ação, mas não divulgou quantos mandados foram cumpridos. Além disso, os agentes apreenderam mais de cem fuzis que eram usados pela facção.
A operação, no entanto, não conseguiu prender Edgar Alves de Andrade, o Doca, principal líder da facção, que segue foragido.
Ele era o principal alvo da operação e já tinha mandado de prisão preventiva expedido antes da ação.
Segundo Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio, Doca usou traficantes para fazer uma barreira e escapar. O Disque Denúncia do Rio oferece R$ 100 mil para quem tiver informações sobre ele.


