Deputado Zé Neto fala sobre o cenário político no Brasil

Em entrevista exclusiva ao Farol da Bahia, o deputado comentou sobre a Reforma da Previdência, dentre outros temas políticos

[Deputado Zé Neto fala sobre o cenário político no Brasil]

FOTO: Tânia Araújo / Farol da Bahia

O Farol da Bahia, em uma série de entrevistas com políticos baianos, entrevistou o deputado federal Zé Neto (PT), que estava de passagem pela capital, para entender como anda o cenário político de acordo com sua visão, tanto em Brasília quanto em Salvador.

Questionado sobre seus projetos protocolados na Câmara, em conjunto com outros deputados federais, voltados contra a atual Reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro, Zé Neto foi direto ao ponto: “essa reforma mexe com situações que são extremamente graves, mexendo com a economia de pequenos municípios”. “O Brasil precisa rever questões previdenciárias dos estados, é necessário à reforma, mas desse jeito que está não dá”, explanou Zé Neto.

“O que está se propondo em Brasília, é uma reforma fiscal, tirando dinheiro da previdência sem antes mexer em uma reforma tributária, para melhorar as arrecadações do país”, comentou o deputado. “Acho que a ordem das coisas está errada, pra piorar, uma reforma como essa, que coloca 82,6% de tudo que se iria economizar da previdência nas costas dos mais pobres do regime geral, que em média, se ganha em um salário mínimo, é um absurdo”, afirmou o petista.

Sobre o texto da previdência a que se refere o deputado, os estados e municípios teriam o prazo de até dois anos para criarem um sistema de previdência complementar, isso em relação aos servidores públicos. E, para os outros casos, o texto é bem simples, o benefício mínimo continuaria vinculado ao salário mínimo (R$ 998), com teto mantido pelo INSS de R$ 5.839,45.

Lembrando que para os idosos e deficientes que tem o benefício, ele será até fortalecido por parte do governo: o valor de R$ 400 será pago apenas para idosos entre 60 e 65 anos que nunca contribuíram para a Previdência ou que estejam em condição de miserabilidade. Para os deficientes, que não podem exercer atividade laboral, o benefício estará garantido. O ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou tal questão do BPC como a divisão no sistema nacional de Previdência entre a assistência social e o pagamento de aposentadorias, situação que não acontece nos dias atuais.

Se excluídos da Reforma da Previdência, estados terão déficit quadruplicado até 2060, alerta a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. Com prejuízo que soma quase R$ 100 bilhões por ano, o déficit dos estados com pagamento das aposentadorias de seus servidores é maior que a dívida que eles têm com a União e com bancos.

Zé Neto também criticou a forma que o ministro da economia, Paulo Guedes, quer mudar o ‘Sistema S’. “O próprio ‘Sistema S’ é importante. É responsável pelo Pronatec, Senac, Sesc e Sesi. Isso que o ministro quer, demonstra uma formulação que vai de encontro as organizações coletivas em todos os estados brasileiros, junto com o que eles vem fazendo com essa redução, por exemplo, do valor repassado para instituições como a Fiocruz e o IBGE”, pontuou. “Atualmente eu vejo um ataque frontal ao Estado, tanto no ponto de vista da organização institucional, como das organizações coletivas”, completou.

O assunto ao qual o deputado federal se refere tem gerado diversas conversas do Ministro da Economia, com vários setores da economia em todo o Brasil. Em mesas redondas, o Ministro tem dito que o ‘Sistema S’ é o que sustenta o Sesi, Sesc e Senac, e tem seus recursos utilizados para financiar campanhas políticas e compra de apoio favorável, além de votações para aprovação de leis, e não em educação, que seria o correto. O orçamento para o ‘Sistema S’ é de R$ 18 bilhões, e segundo as pesquisas do Ministro da Economia, “poderiam custear outros projetos mais benéficos do governo”.

Quando questionado se, em sua opinião, o governo de Jair Bolsonaro chegaria até o final do mandato, Zé Neto manteve em panos quentes. “Eu acho que alguém falar em impeachment agora seria muito precipitado. Assim como fizeram com a Dilma. Quando o Brasil viveu a primeira dificuldade, derrubaram a presidente e modificou o formato das relações internas da economia e da administração do Estado Brasileiro, isso é feito como um ‘golpe’ institucional político”, opinou.

“Hoje em dia, principalmente os partidos do “centrão” estão desorganizados. Vejo o Bolsonaro cada vez mais insolado, vejo o país entrando no parlamentarismo, sem o povo nem entender o que está acontecendo, quem manda hoje em dia é o congresso”, disse. Apesar de parecer que realmente existe uma movimentação no Congresso para que seja revista à constituição e que, no lugar da Reforma da Previdência, seja criado o “parlamentarismo” que o deputado menciona, a existência desse tipo de poder seria impossível em um país, como Brasil, onde a democracia reina e é aceita pela maioria da população.

O deputado Federal comparou a Reforma da Previdência com a Reforma Trabalhista: “algo que parece que vai dar certo e que pode ser armadilha”. “A Reforma Trabalhista seria a grande solução pro emprego no Brasil. De lá pra cá, e não só pelo desemprego como o valor salarial foi sendo reduzido, as pessoas estão ganhando menos, consumindo menos. A economia está devastada. Só a Bahia é uma exceção, graças à Rui Costa, o governador”, comenta Zé Neto, indo contra dados liberados pelo IBGE recentemente, que demonstram que a taxa de desocupação na Bahia chegou aos 18,3%, sendo a segunda maior do país, perdendo para o Amapá.

Ao comentar sobre certa distância dos outros políticos depois da despetização feita pelo novo Governo, ele conta que na Bahia isso não acontece. “Mas em Brasília, o PSL, que é um partido novo, sem nenhuma experiência política, temos essa diferença. Eu vejo que eles estão brigando entre si, não há união”, comentou. “No campo ideológico eles estão muito mal. Não que a esquerda esteja mais bem organizada ideologicamente. A esquerda sofreu nesse país, acertou, errou, e agora estamos fazendo um processo de reflexão. Nesse momento de ataques, buscamos as ruas como alicerce. Eu acho que esse é um caminho que pode nos dar uma solução para o Brasil”, apontou Zé Neto. 

O petista se mostrou esperançoso em relação à possibilidade de o ex-presidente Lula sair da cadeia, para cumprir sua pena em casa. “O momento é de unidade. Estamos lutando em torno de um propósito estrutural para o Brasil. Precisamos unificar a esquerda novamente”, completou o deputado federal. O ex-presidente Lula está cumprindo a pena em Curitiba, no prédio da Superintendência Regional da PF no Paraná, de receber o triplex no litoral de SP como propina dissimulada da construtora para favorecer a empresa em contratos com a Petrobras. 

No mesmo dia da entrevista (3), o deputado federal Zé Neto recebeu o sinal verde vindo do Governador Rui Costa para trabalhar em sua pré-candidatura para prefeitura de Feira de Santana. Zé Neto pretende iniciar uma caravana pela cidade como atividade de pré-campanha, em breve. 


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