Destino da Evergrande continua incerto e ações despencam quase 12% na bolsa
Especialistas apontam que estatização pode ser solução para a empresa

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O destino da gigante imobiliária chinesa Evergrande, que está à beira da falência, permanece em aberto e, até o momento, não há nenhuma expectativa para o pagamento dos quase US$ 84 milhões de juros devidos aos acionistas. Os investidores podem ter que esperar um pouco mais para descobrir se a empresa vai dar, de fato, o tão temido calote.
As ações da empresa despencaram quase 12% nesta sexta-feira (24) em Hong Kong, revertendo a recuperação apresentada no dia anterior com a notícia de que a empresa pagaria juros sobre outro título emitido em yuans para investidores da China continental. Até agora, somente neste ano, as ações despencaram 80%.
Há especulações, de acordo com a CNN, de que o governo chinês terá de intervir para limitar as consequências que seriam causadas pelo colapso de um dos maiores conglomerados imobiliários do país. Especulações sobre uma estatização, a nacionalização efetiva da empresa, foram alimentadas na quinta-feira depois que um site de notícias financeiras regionais, Asia Markets, relatou que o governo chinês estava finalizando um acordo para reestruturar Evergrande com o apoio de empresas estatais (SOEs).
Na última quarta-feira (22), a gigante imobiliária chinesa anunciou um pequeno acordo com um credor local, para evitar o calote dos juros de um título, e que deve aliviar a tensão na economia global. A situação do grupo, com uma dívida acumulada de mais de US$ 300 bilhões, ainda mantém os mercados internacionais em suspense.
Em comunicado à Bolsa de Valores de Shenzhen (sul da China), sua subsidiária Hengda afirmou ter negociado um plano para pagar os juros de um título vencido, estimado em US$ 35,9 milhões. O comunicado, no entanto, não menciona o pagamento dos juros de outra dívida que venceu na quinta (23). O acordo representa um breve descanso para a incorporadora imobiliária que emprega 200.000 pessoas e está presente em mais de 280 cidades.
Soluções
Para a Evergrande, tornar-se uma estatal ajudaria a restaurar a confiança entre os compradores de casas, disseram Stephen Cheung e Calvin Leung, analistas de ações da Jefferies em Hong Kong, em um relatório. A empresa vendeu 200 mil unidades habitacionais que ainda não foram entregues aos compradores, de acordo com uma análise recente do Bank of America.
A medida também “aliviaria a pressão de liquidez a curto prazo” para a empresa, ao mesmo tempo em que tornaria mais fácil realizar uma reestruturação da dívida com detentores de títulos domésticos e estrangeiros, disseram eles. Além disso, daria ao governo chinês um controle ainda maior sobre o vasto mercado imobiliário. Seis das dez maiores incorporadoras imobiliárias do país são estatais ou apoiadas por investidores estatais. Evergrande, então, se tornaria a sétima.
Evergrande nacionalizada
Especialistas apontam que mesmo se Evergrande for nacionalizada, as preocupações de longo prazo sobre a desaceleração do setor imobiliário na China provavelmente persistirão. E esse é um risco maior para a economia chinesa no médio prazo. De acordo com o National Bureau of Statistics, as vendas de casas despencaram quase 20% em agosto em relação ao ano anterior, a maior queda desde fevereiro de 2020, quando a China bloqueou cidades e impôs medidas drásticas para conter o coronavírus. O investimento imobiliário aumentou apenas 0,3%, em comparação com 1,4% em julho, marcando o sexto mês consecutivo de desaceleração do crescimento.