Eleição: taxa de acerto é rejeitada por pesquisadores e institutos
Exigência é discutida na Câmara dos Deputados e já é alvo de críticas

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Assim como a proibição de pesquisas eleitorais no dia e véspera do pleito, a exigência de apresentação de uma "taxa de acerto" para os levantamentos, proposta do novo Código Eleitoral em discussão na Câmara, também é alvo de críticas de institutos e pesquisadores especializados em opinião pública. As informações são do GLOBO.
A medida consta no texto da relatora da comissão da reforma eleitoral, deputada federal Margarete Coelho (PP-PI), que obriga que cada pesquisa forneça o percentual de acerto do instituto responsável referente às últimas cinco eleições.
O principal argumento é que há um erro metodológico na avaliação sobre o que é e como funciona uma pesquisa de opinião. Outro problema é como seria calculada a taxa de acerto, já que o texto não apresenta parâmetros claros.
"A pesquisa não tem o objetivo de projetar o resultado da eleição. Ela não é um prognóstico eleitoral. Ela é um diagnóstico do momento no qual é realizada. Por isso, não há que se falar em taxa de acerto", explica Márcia Cavallari, CEO do Ipec, instituto fundado por ex-executivos do Ibope Inteligência após seu encerramento.
Já o diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), vinculado à Unicamp, Oswaldo do Amaral, acredita que a pesquisa não é um prognóstico do resultado e ressalta que há diversos fatores que influenciam na decisão do leitor.
"O argumento é que os institutos precisam aprimorar sua metodologia, mas há um problema metodológico nessa proposta. Muitas coisas podem acontecer no meio do caminho, entre a pesquisa e o voto. Informações novas podem surgir, e isso pode fazer com que o eleitor mude sua intenção de voto. As pessoas mudam de voto, conforme as informações que vão receber. É um fato. Além disso, não fica claro como seria constituída essa taxa do acerto", comenta.
O diretor da Datafolha, Mauro Paulino, acrescenta também que não há uma forma objetiva de avaliar se um instituto acertou ou erro porque a pesquisa é feita antes de o eleitor votar.
"Se estamos falando de um quadro estável, é provável que a pesquisa feita na véspera se aproxime do resultado final. Quando a gente olha o gráfico com as pesquisas e há algum movimento, é esperado que ele se intensifique às vésperas e no dia da eleição. Mas há uma série de fatores que contribuem para que o eleitor se decida no dia da eleição e isso tem ocorrido cada vez mais tarde. Os eleitores avaliam o noticiário, as últimas declarações de candidatos ou apoiadores. Tratar isso como erro dos institutos significa fechar os olhos para um fenômeno que ganha força principalmente com o advento das redes sociais, que é o eleitor de última hora", defende o diretor do Datafolha.
Paulino também alerta para o risco da intensificação da limitação na divulgação e a circulação de boatos e fakes news.
" O eleitor deve ter o mesmo direito que os partidos têm. Os partidos farão pesquisas e essas pesquisas que os partidos farão, verdade ou não, serão divulgadas nas redes sociais. O que pode acontecer é uma onda de boatos às vésperas das eleições. Vai prevalecer a fake news. A gente sabe que a forma como as redes são usadas no Brasil e especialmente na reta final das eleições".


