Estenose diverticular do cólon: entenda a doença que acometeu o Papa Francisco
Especialista afirma que a idade é um dos principais fatores de risco para doença

Foto: Getty Images
O papa Francisco precisou passar por uma cirurgia, no último domingo (4), para corrigir uma estenose diverticular sintomática do cólon. O Vaticano informou, por meio de um comunicado oficial, que o religioso de 84 anos foi operado com sucesso no hospital Gemelli, em Roma, e "respondeu bem" ao procedimento. De acordo com os especialistas, a doença diverticular é uma condição do sistema digestivo relacionada a pequenas saliências ou bolsas, chamadas também de divertículos, que se formam com o passar dos anos na parede do intestino grosso. Ou seja, essa doença acomete comumente pessoas que desfrutam da longevidade e, além disso, a incidência aumenta com o avançar da idade.
Embora a expectativa de vida do brasileiro tenha sofrido uma redução de no mínimo dois anos devido a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que uma pessoa nascida no Brasil ainda tem uma alta esperança de vida, com média de 76,6 anos. Para alcançar uma vida longa, entretanto, é necessário manter hábitos saudáveis visando uma melhor qualidade de vida. Especialistas apontam ainda que a ausência de uma rotina saudável é o principal fator de risco para o surgimento de enfermidades crônicas. A doença diverticular, por exemplo, além da faixa etária, também pode estar ligada ao estilo de vida e à genética.
Com o objetivo de entender mais um pouco sobre essa doença que, na maioria dos casos, está ligada a pessoas com a idade avançada, o Farol da Bahia conversou com o coloproctologista e diretor do núcleo de coloproctologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), Dr. Ramon Mendes. Ele explicou que a doença diverticular é comum, mas a estenose já não é tão comum assim e ocorre, segundo ele, em apenas 4% da população que tem diverticulite.
Como essa doença é uma condição do sistema digestivo, a maioria das pessoas com divertículos não apresenta sintomas e só pode descobrir sobre a condição se fizerem um exame por algum outro motivo. Essa situação assintomática é chamada de diverticulose. Mas caso os divertículos causem sintomas, como dor no abdômen, isso é chamado de doença diverticular. Contudo, se eles ficam inflamados, gerando sintomas mais graves, pode ser considerado um quadro de diverticulite.
“Estenose diverticular ocorre devido a frequente inflamação dos divertículos que são saculações presentes no intestino grosso. Essa inflamação frequente deixa a parede do intestino mais espessa e com isso estreita causando dor e dificuldade para o seu funcionamento”, explica o especialista. Segundo ele, a estenose diverticular do cólon é um estreitamento do intestino que ocorre devido a uma inflamação crônica ou repetida,“que pode ser uma consequência da diverticulite”.
O médico explica ainda que essa inflamação crônica deixa cicatrizes no intestino, fazendo com que a parede fique mais endurecida e espessa. “Se essas inflamações tornam-se recorrentes, a passagem que tinha 5 centímetros de calibre passa a ter 1 ou 2. Esse estreitamento do órgão, portanto, recebe o nome de ‘estenose’”, afirma.
“Quando há inflamação chamamos de diverticulite, que é um quadro agudo a ser tratado com remédios via oral ou endovenosa. Caso chegue a ter perfuração ou sangramento do intestino, o paciente precisará de intervenção com urgência. O tratamento cirúrgico é a melhor opção quando se tem essa situação. O uso da robótica proporciona uma melhor abordagem com maior precisão e visão para realizar essa cirurgia, possibilitando o retorno precoce às atividades e a alta hospitalar mais rápido em até 48 horas”, completa Dr. Ramon Mendes.
Ainda segundo o médico, a doença diverticular tem cura. “O tratamento algumas vezes inicia clinicamente com mudança da alimentação e prática de atividade física. Porém, nas complicações, como na estenose, já é necessária a realização de uma cirurgia para remover a parte doente do intestino. Logo depois, espera-se que o paciente retorne a vida normal”, conclui.
Causas e sintomas
De acordo com dados do Ministério da Saúde brasileiro, há uma prevalência de 30% da doença entre pessoas com 60 anos e de 65% com mais de 80 anos. Isso acontece porque as paredes do intestino grosso enfraquecem com a idade, principalmente no sigmóide, a parte inferior esquerda do abdômen. A pressão da passagem das fezes duras, chamada de constipação, pode causar a formação de divertículos.
Os sintomas da estenose vão desde dificuldade na evacuação, porque o intestino está estreito, até um quadro mais grave como a obstrução intestinal. O paciente pode conviver bem com a estenose sem precisar operar, mas quando começa a ter sintomas de dor abdominal, distensão abdominal, dificuldade na evacuação ou parada na evacuação das fezes, é preciso marcar uma cirurgia.