Estresse crônico afeta cérebro de professores, alerta neurocientista!

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Por Michel Telles
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Estresse crônico afeta cérebro de professores, alerta neurocientista!

Foto: Divulgação

O estresse crônico deixou de ser apenas uma queixa comum do cotidiano para se tornar um problema de saúde pública com impacto direto no trabalho. Em 2014, quase 203 mil brasileiros foram afastados de suas funções por episódios depressivos, transtornos de ansiedade, reações a estresse grave e outras questões ligadas à saúde mental. Dez anos depois, em 2024, o número mais que dobrou: mais de 440 mil trabalhadores se afastaram por transtornos mentais e comportamentais, recorde da série histórica, segundo dados oficiais. Entre eles estão milhares de professores, categoria que convive com sobrecarga, violência escolar, pressão social e excesso de demandas digitais.

A neurocientista e psicanalista Ana Chaves explica que a exposição contínua ao estresse altera circuitos cerebrais essenciais para o desempenho docente. “O hipocampo, responsável pela memória e aprendizado, sofre redução funcional; o córtex pré-frontal, ligado à tomada de decisão e planejamento, perde eficiência; e o sistema de recompensa, responsável pela motivação, fica desregulado. O resultado é perda de memória, dificuldade em se concentrar, queda na capacidade de julgamento e menor engajamento em sala de aula”, afirma.

Estudos recentes reforçam a gravidade do problema. Pesquisas publicadas em revistas como Neurology e JAMA mostraram que o estresse crônico aumenta o risco de AVC, acelera o declínio cognitivo e pode antecipar quadros de demência, como Alzheimer. Um trabalho da UT Health San Antonio, nos Estados Unidos, concluiu que pessoas de meia-idade com altos níveis de cortisol apresentam menor volume cerebral e pior desempenho em testes de memória. Já o tradicional Framingham Heart Study identificou que níveis elevados desse hormônio estão associados a déficits cognitivos mesmo antes da demência se manifestar.

No ambiente escolar, os efeitos se tornam ainda mais evidentes. Pressões externas, falta de recursos, desvalorização profissional e a violência nas salas de aula funcionam como gatilhos permanentes para o estresse crônico. Além disso, a sobrecarga digital – com grupos de mensagens, plataformas online e demandas fora do horário de expediente – prolonga a sensação de alerta constante, dificultando a recuperação emocional.

Ana Chaves alerta que, se não tratado, o estresse crônico pode levar ao esgotamento físico e mental. “O burnout não é apenas uma fadiga passageira. Estamos falando de uma condição que compromete o cérebro, aumenta o risco de doenças cardiovasculares e acelera o envelhecimento precoce. Para os professores, isso significa perda de qualidade de vida e dificuldades em exercer plenamente sua função social”, explica.

*Estratégias de autocuidado*

A especialista defende estratégias práticas e acessíveis de autocuidado, baseadas em evidências da neurociência: pausas conscientes ao longo do dia, exercícios de respiração que regulam o sistema nervoso, práticas de mindfulness para reduzir a ansiedade e fortalecimento de redes de apoio entre colegas de trabalho. “São medidas simples, mas que ajudam a reduzir a liberação de cortisol e a proteger os circuitos cerebrais mais vulneráveis ao estresse”, destaca.

Para além do esforço individual, a neurocientista lembra que a responsabilidade deve ser compartilhada. Escolas, gestores e famílias têm papel fundamental na criação de ambientes mais seguros e acolhedores para docentes. “A prevenção não é apenas cuidar do professor, mas também criar condições para que ele ensine com saúde e motivação. É uma questão de proteção social”, conclui Ana Chaves.

Quem é Ana Chaves
Neurocientista e psicanalista renomada, Ana Chaves se dedica a estudar o funcionamento do cérebro humano e a capacitar indivíduos a alcançarem seu potencial máximo. Através de uma abordagem holística e científica, Ana inspira e orienta aqueles que buscam crescimento pessoal e profissional. Colabora com o UOL e Valor Econômico com colunas mensais sobre equilíbrio emocional e desenvolvimento humano. Também realiza palestras e mentorias, já tendo impactado a vida de mais de 5 mil pessoas.
Para mais informações: @oficialanachaves no Instagram
https://www.instagram.com/oficialanachaves/
 

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