Google censura pesquisadores e pede que evitem críticas sobre sua inteligência artificial
Em alguns casos, representantes da empresa interferem no texto final de documentos

Foto: Reprodução
Em 2020, o Google atuou para ampliar o controle sobre pesquisas publicadas por seus cientistas, fazendo uma revisão sobre tópicos sensíveis. Em pelo menos três casos, pediu aos autores para evitarem manifestar uma visão negativa sobre a tecnologia da empresa, de acordo com documentos internos e conversas com pesquisadores envolvidos no trabalho.
A empresa pede para que os pesquisadores consultem equipes jurídica e de relações públicas antes de avançarem sobre tópicos que envolvam análise de rostos e sentimentos e categorizações de raça, gênero e afiliação política, segundo documentos internos da empresa que explicam a norma.
"Avanços na tecnologia e o crescimento da complexidade de nosso ambiente externo estão cada vez mais levando a situações onde projetos aparentemente inofensivos criam questões éticas, computacionais, revogatórias ou jurídicas", afirma uma das páginas do documento voltado à equipe de pesquisa da empresa.
Em alguns projetos, representantes do Google chegaram a intervir em estágios finais da publicação. Como no caso de um gestor sênior que revisou um estudo sobre tecnologia de recomendação de conteúdo antes de sua publicação e disse aos autores para "prestarem muita atenção para darem um tom positivo", segundo comunicação interna vista pela Reuters. "Isso não significa que devemos nos esconder dos desafios reais" criados pela tecnologia, acrescentou.
Mensagens subsequentes de um cientista para os revisores da empresa mostram que os autores de um estudo "removeram todas as referências aos produtos do Google". Um rascunho do documento visto pela Reuters fazia menção ao YouTube. Quatro cientistas da empresa, incluindo a pesquisadora sênior Marraste Mitchell, afirmaram que acreditam que o Google está começando a interferir em estudos importantes sobre potenciais perigos da tecnologia.
"Se pesquisamos um assunto de nossa expertise e não podemos publicar isso porque não está em linha com uma revisão de alto nível de nossos pares, então estamos nos metendo em um problema sério de censura", disse Mitchell. Em seu site público, o Google afirma que seus cientistas gozam de "substancial" liberdade.