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Governo troca 50 mil canetas de insulina do SUS após reclamações e falhas

Produto é fornecido pela GlobalX, empresa com contratos vigentes de mais de R$ 570 milhões para abastecer a rede pública

Por FolhaPress
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Governo troca 50 mil canetas de insulina do SUS após reclamações e falhas

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

O Ministério da Saúde determinou a troca de cerca de 50 mil canetas reutilizáveis de insulina distribuídas ao SUS após receber uma série de reclamações sobre falhas e quebras. O produto é fornecido pela GlobalX, empresa com contratos vigentes de mais de R$ 570 milhões para abastecer a rede pública com o medicamento para diabetes. A Saúde ainda cobrou da empresa melhorias nas canetas e disse que fará levantamentos periódicos sobre as peças que precisam de reposição. No total, cerca de 2,9 milhões de unidades já foram entregues para os estados e municípios.

A caneta reutilizável começou a ser distribuída neste ano e vem substituindo o modelo descartável. Em documento obtido pela reportagem, o ministério apresentou à empresa relatos de secretarias de saúde sobre defeitos mecânicos, vazamentos e fragilidade dos dispositivos. Em nota, a GlobalX diz que apenas uma pequena fração, de cerca de 1,5% das entregas, apresentou falhas. Afirma ainda que doou mais 1,4 milhão de unidades ao SUS. "Para contemplar as necessidades do mercado brasileiro e sensível às notificações feitas pelo Ministério da Saúde, a GlobalX mantém contato permanente com a pasta para promover adequações no dispositivo algo que já está em curso", declara a empresa.

No fim de agosto, a Saúde ordenou a troca de mais de 41 mil unidades com base nos relatos dos estados e municípios. Em setembro, o governo pediu a substituição de outras 9.000 canetas reutilizáveis, pois o produto chegou ao estoque do ministério em caixas amassadas. No ofício direcionado à GlobalX, o ministério diz que os relatos de dificuldade no uso do dispositivo persistem mesmo após a empresa realizar treinamentos com os profissionais do SUS. Ainda afirma que os casos apontam a necessidade de "melhorias no produto".

O Ministério da Saúde disse à reportagem que as peças com falhas já foram substituídas. A pasta ainda declarou que parte da insulina distribuída pelo SUS não é aplicada com canetas, mas com seringas, e que tem buscado alternativas para abastecer a rede pública, como parcerias entre laboratórios públicos e privados. Segundo o documento enviado pela pasta à GlobalX, o governo de São Paulo pediu a troca de 35,5 mil das 435 mil peças que havia recebido. A secretaria paulista apontou "dificuldade para colocar o carpule [parte da seringa]" na caneta, além de "mau funcionamento, quebra, falhas mecânicas e vazamento de insulina". Ainda afirmou que o material é frágil e que pacientes não conseguem visualizar o fim da insulina.

Outros estados, como o Mato Grosso do Sul, disseram que pacientes idosos têm dificuldade em manipular o dispositivo. Já Minas Gerais relatou que ele libera "quantidade de medicamento menor que a esperada" e que a "caneta continua gotejando após a aplicação". O governo municipal de São Paulo disse que existem casos de quebra espontânea do pistão da caneta, além de defeito no botão disparador. Também registrou defeito na mola que empurra o êmbolo.

No ofício enviado a empresa, o ministério afirma que o levantamento junto aos estados e municípios foi realizado para "quantificar as unidades que apresentaram defeitos de fabricação ou funcionamento, que pudessem comprometer a segurança e a eficácia do tratamento de pacientes com diabetes". Entre todos os estados, apenas o Acre não relatou problemas com as canetas nem pediu troca dos produtos, segundo o documento do ministério. Com validade de três anos, o dispositivo da GlobalX é entregue aos pacientes, que também recebem periodicamente frascos com o medicamento. Gestores do SUS ainda relatam desafios para se adaptarem ao novo modelo.

Enfermeira do Cedoh (Centro Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão Arterial) do Distrito Federal, Renata Oliveira afirma que a transição exige ações de educação. "Principalmente pacientes mais frágeis, idosos, com dificuldade visual, encontram maior dificuldade para manusear". Ela afirma que a caneta reutilizável da GlobalX parece ser mais frágil que modelos anteriormente entregues ao SUS. "Quando o paciente traz os equipamentos, algumas vezes a gente detecta que ele está quebrado e o paciente não observou isso, e a alteração da glicemia ocorre. A orientação é parar de usar imediatamente o produto quebrado e fazer a troca na UBS", diz Oliveira.

A GlobalX pertence a Freddy Rabbat Neto. Ele é filho do empresário de mesmo nome, que já representou distribuidoras, inclusive a GlobalX, em compras do ministério e que também atua no mercado de artigos de luxo. A empresa tem mais de R$ 620 milhões em contratos vigentes com o Ministério da Saúde, sendo os principais deles para fornecimento de insulinas.

A insulina da GlobalX não tem registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), enquanto a caneta utilizada para aplicar o medicamento recebeu o aval do órgão regulador em agosto. O Ministério da Saúde tem recorrido às compras de produtos avaliados apenas por agências estrangeiras sob argumento de que não encontra o produto no mercado nacional.

A pasta atribui a redução da oferta de insulina à escolha das farmacêuticas em priorizar "produtos mais rentáveis, como as canetas emagrecedoras". "O processo [de compra da insulina e aplicador da GlobalX] seguiu rigorosamente a legislação brasileira, que prevê essa possibilidade diante da falta no mercado interno", diz a Saúde.

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