Grupo de médicos repudia declaração de médica que pediu cloroquina à Bolsonaro

"Joga no obscurantismo todo o trabalho que vem sendo desenvolvido", diz a nota

[Grupo de médicos repudia declaração de médica que pediu cloroquina à Bolsonaro]

FOTO: Reprodução/YouTube

Um grupo de médicos de Porto Seguro, no sul baiano, repudiou as declarações da médica Raíssa Soares, após ela afirmar, em entrevista à assessoria de comunicação do município, que os médicos têm medo do Covid-19 e medo de receitar a cloroquina para ficarem em casa.

Raíssa Soares ficou conhecida após gravar um vídeo pedindo cloroquina ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo o grupo de médicos, a declaração de Raíssa "joga no obscurantismo todo o trabalho que vem sendo desenvolvido, não só pelos médicos, mas por toda equipe multiprofissional, que está fortemente comprometida com a sociedade porto-segurense e em benefício dos seus cidadãos". Leia a nota na íntegra: 

Prezados,

 Em respeito à sociedade porto-segurense e à todos os servidores e colaboradores de saúde do nosso município, este grupo expressivo de médicos atuantes no município de Porto Seguro vem a público manifestar veemente repúdio em decorrência do vídeo publicado nas redes sociais da Prefeitura Municipal de Porto Seguro no dia 29/06/2020, em que a médica em entrevista à Assessoria de Imprensa da prefeitura alegou:
 “…médico, se você tem medo de covid-19 fique em casa, tá bom?! Médico, se você tem medo de dar hidroxicloroquina pra covid-19, fique em casa, ok?! Nós vamos te entender!”
 Estamos atentos à expressões e atitudes dessa natureza e não toleraremos em nenhuma hipótese práticas que firam aos preceitos do Código de Ética Médica, à saber:
 “As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente.”
 (Capítulo I, Artigo XVII)

 “O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de denunciar atos que contrariem os postulados éticos.” (Capítulo I, Artigo XVIII)
 “O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje […]” – (Capítulo I, Artigo VII, parte a) “Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.” (Capítulo I, Artigo IV que médico que não  mesmo  a OMS é os EUA, terem divulgado a ineficácia da cloroquina, ivermectina é aziteomicina para o tratamento da Covid-19 “O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.” (Capítulo I, Artigo VIII)
 “Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição, pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios cientificamente reconhecidos a serem praticados para estabelecer o diagnóstico e executar o tratamento, salvo quando em benefício do paciente.” (Capítulo I, Artigo XVI) “É direito do médico indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente.” (Capítulo II, Artigo II). Nós testemunhamos uma manifestação gravíssima de desprezo aos profissionais médicos e à autonomia destes na tomada de decisão clínica. Esta declaração, divulgada pela página oficial do município, joga no obscurantismo todo o trabalho que vem sendo desenvolvido, não só pelos médicos, mas por toda equipe multiprofissional, que está fortemente comprometida com a sociedade porto-segurense e em benefício dos seus cidadãos. Somos profissionais que atuam com base na ética e nas  recomendações das Sociedades Brasileiras de especialidades médicas, Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, buscando as melhores evidências técnico-científicas disponíveis para o combate da pandemia do coronavírus.  Não podemos deixar esse acontecimento passar apenas como uma infortuna colocação ou palavras mal interpretadas, pois, tais palavras ferem a autonomia profissional e sua a qualificação individual, depreciam e desqualificam os demais médicos na tomada individualizada de decisão clínica baseada em uma avaliação semiológica complexa. No lugar de silenciar este tipo de comentário, a Prefeitura Municipal de Porto Seguro deu ampla visibilidade a um comentário que julgamos desrespeitoso. Assim, solicitamos desta gestão uma retratação pública aos médicos que tem se doado integralmente no combate à esta pandemia. Ao contrário do que foi dito, nós temos  médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina. Diante do exposto, reafirmamos que: NÃO FICAMOS, NÃO ESTAMOS E NÃO FICAREMOS EM CASA, POIS NOSSA MISSÃO É SALVAR VIDAS COM ÉTICA, RESPEITO E COMPROMISSO CIENTÍFICO.

Após o vídeo da médica, Bolsonaro atendeu ao pedido da médica e enviou cerca de 40 mil doses do medicamento para a cidade de Porto Seguro, no sul da Bahia. Contudo, Raíssa foi demitida do hospital em que trabalhava.

Após a nota emitida pela classe médica, a prefeitura de Porto Seguro emitiu também uma nota pedindo desculpas aos médicos; veja:


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