Imunoterápico consegue expulsar HIV dormente de células, indica estudo
Droga chamada de pembrolizumabe, conseguiu reverter o processo de latência do HIV em células de pessoas com câncer

Foto: Yuri Cortez/Getty Images
O uso de um imunoterápico, chamado pembrolizumabe, utilizado contra câncer, obteve sucesso em expulsar o vírus HIV dormente de células de pacientes vivendo com o patógeno. A droga conseguiu reverter o processo de latência do vírus em pacientes imunossuprimidos que fazem uso de coquetéis antirretrovirais e possuem carga viral controlada – abaixo dos níveis que podem levar ao desenvolvimento de Aids.
A expulsão do HIV no citoplasma permitiu às células de defesa identificar o vírus latente e agir na morte celular. Essa descoberta é fruto de um estudo, publicado na revista especializada Science Translational Medicine, no último dia 26 de janeiro deste ano, e que contou com pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
A pesquisa é considerada um avanço na busca por drogas capazes de atacar as células do organismo infectadas pelo HIV, um dos principais desafios para a criação de uma vacina contra Aids.
Procedimento da pesquisa
A pesquisa contou com 32 voluntários, dos quais 29 (91%) possuem carga viral indetectável e apenas três (9%) possuíam nível viral acima do limite de detecção, para a realização de um ensaio clínico.
A droga agiu na liberação de moléculas anti-PD-1 - sigla para proteína 1 programadora de morte celular. Essa proteína é responsável por inibir a ação de células de defesa T (como CD4+ e CD8+, responsáveis por atacar patógenos e células tumorais), capazes de identificar o vírus invasor.
Algumas células T podem ter uma longa vida e, assim, "guardar" o vírus HIV por muitos anos. Portanto, o anticorpo monoclonal, quando se liga nessas moléculas, pode ajudar o organismo a identificar as células infectadas e atacá-las.
Os 32 voluntários receberam um ciclo de terapia e foram avaliados a cada três semanas para determinar a quantidade de células T e de material genético do HIV após o tratamento. Oito dias após o primeiro ciclo, os fragmentos de RNA viral aumentaram 1,32 vezes, isso significa que a droga obteve êxito em "expulsar" o vírus dormente das células. Esse número chegou a 1,6 vezes maior a partir do 22º dia, quando começou o segundo ciclo.
Após os seis ciclos, ou 126 dias, as células T com vírus HIV detectável aumentou 1,44, indicando assim que o tratamento teve sucesso em reverter a inibição das células de defesa e tornar "visível" as células com vírus dormente.
No entanto, apesar conclusões animadoras, o estudo afirma que é necessário realizar ensaios clínicos com um maior número de indivíduos a fim de determinar qual seria a dose ideal de pembrolizumabe para reverter a dormência do vírus e ao mesmo tempo restringir os efeitos colaterais do imunoterápico.