Indústria diz que bebida falsa chega a custar metade do preço
Mercado legal comercializa R$ 436 bilhões por ano com bebidas alcoólicas, enquanto a produção ilegal concentra R$ 55 bilhões

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No centro da onda de intoxicações por metanol, o setor de bebidas alcoólicas destiladas lida com uma forte competição do mercado ilegal, que chega a vender garrafas 50% mais baratas do que comerciantes que pagam tributos regularmente, segundo a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas).
Hoje, o mercado legal comercializa R$ 436 bilhões por ano com bebidas alcoólicas, enquanto a produção ilegal concentra R$ 55 bilhões, aproximadamente 12,7% de tudo o que é vendido, diz a entidade.
Após o fortalecimento das ações de fiscalização nas fronteiras para barrar a entrada de produtos contrabandeados e o descaminho, o volume de falsificações – que é outra grande preocupação do setor – subiu 26% no ano passado em comparação com 2023.
O chamado refil, em que os fraudadores reaproveitam garrafas originais de marca para preencher com líquidos adulterados, é um dos principais métodos. As falsificações costumam conter álcool impróprio para consumo humano, com custo mais baixo para atrair os compradores – além de copiar rótulos, garrafas, tampas e o líquido adulterado, dificultando o trabalho das autoridades.
Vodca, gin e uísque são os produtos mais afetados nesta cadeia de produção, pois podem ser adulterados com maior facilidade por essências e trocas de líquidos que alteram cor ou sabor da bebida.
O segmento de destilados é mais sensível ao problema do que os fermentados. Nele, a participação das bebidas ilegais, que envolvem sonegação fiscal, contrabando ou descaminho, falsificação e produção sem registro, chega a 28%, segundo a entidade.
O mercado de uísque ilícito é o maior, segundo estudo da Euromonitor para a ABBD, com cerca de 33% de tudo o que é vendido no segmento. Em seguida está a vodca, com 27% das garrafas, cachaça, com 18%, gin, com 15%, e outros destilados, como o rum, com 7% – vinhos e cervejas ilegais aparecem com 7% e 2%, respectivamente.
De acordo com a ABBD, as bebidas mais falsificadas são aquelas em cujas cadeias incide uma alta carga tributária. Uísque importado, vodca e rum recebem 67% de imposto, segundo dados da KPMG. Vinho e cerveja recebem 47% e 44% de imposto, respectivamente.
De acordo com a ABBD – que reúne gigantes da indústria como Diageo, dona das marcas Johnnie Walker e Smirnoff, e Pernod Ricard, que tem Absolut e Chivas Regal no portfólio, as perdas com arrecadação provocadas pelo mercado ilegal de bebidas alcoólicas no Brasil ficaram em torno de R$ 28 bilhões no ano passado.
Os produtos falsificados são, em média, 35% mais baratos. Nos marketplaces online, o preço do uísque falso chega a custar 48% menos.
"O que a gente percebeu ao longo desse período em que estamos pesquisando, é que eles inicialmente faziam essas falsificações em produtos mais populares, e aí perceberam que iriam ganhar muito mais se fizessem isso com um produto de maior valor agregado. Em vez de falsificar um uísque de R$ 150, ele começou a falsificar um uísque de R$ 1.000 e ganhou na margem do negócio", diz Eduardo Cidade, presidente da ABBD.
O setor avalia que a fiscalização das autoridades nas fronteiras cumpriu papel essencial no combate à entrada do produto ilegal. Agora, com os casos de contaminação por metanol, a pressão junto aos governos é para redirecionar a fiscalização ao mercado interno e reduzir sonegação fiscal, descaminho e, principalmente, bebidas falsificadas.
Na próxima semana, um grupo de empresários vai se reunir com um comitê de crise do Ministério da Justiça para municiar os órgãos de fiscalização com informações e treinamentos.
Segundo Eduardo Cidade, ainda não é possível mensurar o impacto das intoxicações na demanda do setor. As empresas estão fazendo um gerenciamento de crise que, nesta fase, é de intensificação dos treinamentos com comerciantes, vistos como mais vulneráveis ao problema.