Itália diz seguir em busca de Zambelli e descarta pista mais recente sobre deputada
Zambelli fugiu do Brasil para escapar do cumprimento da pena de dez anos de prisão imposta pelo STF

Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
O ministro do Interior da Itália, Matteo Piantedosi, afirmou nesta quarta (16) que as autoridades do país ainda não conseguiram identificar a localização da deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP), que está foragida no país há mais de 40 dias. A oposição acusa o governo de estar dando cobertura à brasileira.
"As investigações realizadas até o momento e ainda em andamento não levaram à localização da deputada brasileira", disse o ministro no plenário da Câmara. Sua pasta é responsável pela segurança pública e pela coordenação das forças policiais italianas.
A afirmação do ministro foi em resposta a uma nova interpelação apresentada pelo deputado Angelo Bonelli (Verde e de Esquerda). Ele questionou formalmente o governo sobre os motivos que impedem a polícia de identificar a localização de Zambelli para aplicar a ordem de prisão difundida pela Interpol, a pedido do Brasil.
"Durante as investigações, relatos sobre a presença da parlamentar em determinados locais ou contextos foram verificados, sempre com resultados negativos", disse Piantedosi. "As atividades investigativas e a verificação de novas informações, compartilhadas no âmbito da colaboração com as autoridades policiais brasileiras, continuam."
Nesta semana, o jornal Repubblica publicou que Zambelli teria sido vista na cidade de Scafati, no sul do país, supostamente saindo de um culto evangélico. A informação foi negada pelo ministro.
"Novas inspeções foram realizadas sobre a possível presença da referida em uma comunidade religiosa da região de Salerno, mas foi prontamente constatado que a pessoa era uma outra mulher, sem relação com o caso", disse Piantedosi, que é ligado politicamente ao vice-premiê Matteo Salvini, da Liga, de ultradireita.
Zambelli fugiu do Brasil para escapar do cumprimento da pena de dez anos de prisão imposta pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ela foi condenada por participar da invasão do sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
A congressista entrou na Itália em 5 de junho, pelo aeroporto Fiumicino, em Roma. Ela chegou com um voo dos EUA e passou por controle de passaportes com o documento italiano, por possuir dupla cidadania. Desde então, sua localização é desconhecida, dizem as autoridades.
Em sua réplica, o deputado Bonelli, de oposição, sugeriu que Zambelli está contando com cobertura política dentro da Itália. Quando anunciou sua saída do país e a intenção de ir para a Europa, a deputada disse que faria contato com lideranças da ultradireita. Ela se considera vítima de perseguição política pelo STF.
"O que está havendo, senhor ministro? Qual é o motivo de a grande capacidade da polícia italiana não conseguir identificar essa pessoa, a não ser que ela goze de cobertura política neste país? O que, francamente, seria um fato extremamente grave", disse Bonelli.
Em seu argumento, o parlamentar denunciou um novo perfil no Instagram que estaria sendo utilizado por Zambelli, além de vídeos supostamente recentes. E mencionou declarações recentes do advogado da deputada no Brasil, Fábio Pagnozzi, que disse que ela poderia tentar concorrer nas eleições italianas, previstas para 2027.
Entre as forças políticas no poder, o mais próximo da família Bolsonaro é Salvini. Em outubro do ano passado, o ex-presidente participou por vídeo de encontro da Liga. E, há cerca de um mês, o senador Flavio Bolsonaro esteve na Itália, onde foi recebido por Salvini.
"Visita de cortesia ao amigo Matteo Salvini! Por vídeo, Jair Bolsonaro lembrou que colaborou, como presidente do Brasil, para a extradição do terrorista Cesare Battisti de volta para a Itália", escreveu Flavio nas redes sociais, em post também compartilhado pelo italiano.
Há cerca de um mês, outra representante do governo já havia dado explicações sobre a atuação das forças policiais no caso Zambelli. Segundo a subsecretária do Interior, Wanda Ferro, a deputada desembarcou no país cerca de cinco horas antes de seu nome ser divulgado na lista da Interpol. Naquele momento, afirmou, as autoridades de fronteira não puderam proceder com a prisão, "já que, no ato de controle, ela resultava sem antecedentes policiais no território".
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