Levantamento revela que 40% dos jovens com ensino superior não têm emprego qualificado

Especialistas alertam que a pandemia pode complicar ainda mais a situação

[Levantamento revela que 40% dos jovens com ensino superior não têm emprego qualificado]

FOTO: Reprodução

No primeiro trimestre de 2020, 40% dos brasileiros entre 22 e 25 anos com faculdade no currículo eram considerados sobre-educados, é o que revela o levantamento realizado pela consultoria iDados. Isso significa que mais de 525 mil jovens graduados que estavam em ocupações que não exigem ensino superior. Desde 2014, os jovens que entraram ou se formaram no ensino superior enfrentam um mercado de trabalho bastante fragilizado. 

Nesse período, entre 2015 e 2016, houve uma forte recessão provocada pelos vários desequilíbrios macroeconômicos e pela turbulência política do governo Dilma Rousseff. Os anos seguintes foram de baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), insuficientes para recuperar todas as perdas da economia. Agora, a dura crise provocada pelo coronavírus deve agravar ainda mais esse cenário.

"Houve uma formação muito grande de pessoas com ensino superior nos últimos 10 anos", afirma a pesquisadora do iDados e responsável pelo levantamento, Ana Tereza Pires. "As pessoas que se formaram a partir de 2015 enfrentaram um cenário de crise, em que elas não conseguiam mais encontrar uma vaga compatível com o nível de estudo."

"O principal motor (para esse elevado nível de sobre-educação) foi a desaceleração da economia", diz Ana Tereza. E as perspectivas são de piora desse quadro atual, alerta o professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho.

“A pandemia está provocando o fechamento de negócios e queda generalizada de emprego e renda no país. Muitos desses jovens não estão conseguindo encontrar emprego nem no setor informal, então tudo o que eles aprenderem na faculdade e no ensino médio está sendo depreciado, eles não estão utilizando”, afirma.

A importância do ensino superior

Embora o cenário do mercado de trabalho ainda esteja bastante fragilizado, um curso de ensino superior ainda faz muita diferença no Brasil. A taxa de desocupação é menor entre aqueles trabalhadores que possuem o diploma universitário. 

"Por mais que os jovens não estejam conseguindo encontrar vagas compatíveis com a formação deles, é importante lembrar a taxa de desemprego entre quem tem ensino superior é muito mais baixa do que, por exemplo, quem tem só ensino médio ou menos.", diz Ana Tereza.

A consequência para o Brasil, no entanto, de ter jovens capacitados em ocupações que exigem baixa qualificação, é bastante perversa. Esses trabalhadores vão ter um salário mais baixo do que poderiam alcançar e uma produtividade menor, o que dificulta o enriquecimento do país. 

A economia brasileira lida com um problema crônico com a sua produtividade, estagnada há 40 anos. Em 2019, um trabalhador brasileiro produziu o mesmo do que em 1980. "Temos um problema de capital humano, de educação. Desde a primeira infância, as crianças têm baixo investimento para desenvolver suas habilidades, não só de raciocínio, de aprendizado em português e matemática, mas de habilidades socioemocionais.", diz Naercio.


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