Medo de ser excluído? Você pode ser mais uma vítima da FOMO
'Fear of missing out” significa “medo de ficar de fora” e tem relação com a perda de momentos importantes

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É sábado à noite e seus amigos te chamam para sair. Você recusa, precisa economizar. Horas depois, abre as redes sociais e se depara com fotos do rolê que decidiu não ir e pronto: o coração dispara e bate uma tristeza instantânea. Se você passa por situações como essa com certa frequência, pode ser um sinal de FOMO. Do inglês “fear of missing out”, o sentimento pode ser traduzido como “medo de ficar de fora”, em português, e tem relação com a sensação de perda de momentos especiais. Mas a FOMO não aparece apenas entre amigos, o medo de ser excluído surge em relações familiares a até de trabalho.
Em um mundo hiperconectado, a gente quase sempre sabe onde as pessoas próximas estão e o que fazem. Os registros são compartilhados em tempo real, através dos stories no Instagram, vídeos no TikTok ou status no WhatsApp. Se você por algum motivo não foi convidado para uma festa ou até foi e preferiu ficar em casa, o arrependimento e a sensação de exclusão podem ser avassaladores. Daí surge a FOMO, termo que existe há mais de 20 anos, mas que voltou a se popularizar nas redes sociais. Para a psicoterapeuta Ana Chaves, que se dedica a estudar o funcionamento do cérebro humano, a raiz do problema é uma velha conhecida.
“A comparação constante com as vidas dos outros e a sensação de que elas são sempre mais interessantes são sintomas comuns da síndrome de FOMO. Ela é um tipo de ansiedade que tem relação com a dificuldade em focar no presente e pode aparecer de diversas formas”, avalia a psicoterapeuta. Ana Chaves explica que o sentimento tem reflexos como dificuldade em focar no momento presente e impulsos de aceitar convites apenas pelo medo de ficar de fora. Segundo ela, às vezes as pessoas até preferem ficar em casa, mas se forçam a sair apenas pelo receio de perder “algo importante”.
No mercado de trabalho, a FOMO também dá sinais. O sentimento se relaciona com a ansiedade que surge quando os profissionais acreditam que estão perdendo oportunidades ou “ficando para trás”. A comparação é, mais uma vez, o pontapé do problema. Não é incomum que as pessoas entrem em um ciclo de autodepreciação, dificultando ainda mais a resolução do problema. Ana Chaves lembra que o aconselhamento com profissionais de saúde mental é recomendado em casos desse tipo.
Medo de perder relações
Um estudo recente, realizado nos Estados Unidos, leva a crer que a FOMO está mais ligada com a perda de relações com pessoas do que com eventos sociais. Por exemplo, uma pessoa não sentiria tristeza apenas por perder um show que gostaria de ir, mas sim por ver que amigos que ela ama foram ao evento sem ela. É o que indica a pesquisa conduzida pela pesquisadora comportamental Jacqueline Rivkin, da Cornell University. Foram realizados sete experimentos com milhares de participantes para entender suas respostas diante de situações que poderiam causar FOMO.
“Estávamos realmente interessados nesses tipos de situações com mais variações, em que talvez a coisa que você perdeu nem tenha sido tão boa assim. Isso ajuda a entender a psicologia central, o motivo pelo qual você ainda pode ter ansiedade. E é mesmo sobre o fato de que as pessoas se uniram umas às outras sem você”, contou a pesquisadora ao portal DW. Entre as situações analisadas estavam: ausentar-se de uma viagem com amigos, ser admitido em um grupo social somente para membros e avaliação das redes sociais de outras pessoas.
Alguns estudos já buscaram entender o que pode estar por trás da FOMO. Para especialistas, o uso constante das redes sociais aumenta a comparação com outros indivíduos, como explica a psicoterapeuta Ana Chaves. O aumento do consumo de álcool e drogas também poderia estar ligado ao medo da exclusão, segundo uma pesquisa conduzida pela Southern Connecticut State University, em 2022.