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Mulheres baianas contam a experiência da luta para vencer o câncer de mama

Na última reportagem da série sobre o Outubro Rosa, o Farol da Bahia conta a história de duas pacientes e os impactos emocionais que a doença acarreta

Por Da Redação
Ás

Mulheres baianas contam a experiência da luta para vencer o câncer de mama

Foto: Reprodução

“Quando eu recebi o diagnóstico do câncer de mama foi um misto de sensações, o meu mastologista teve uma conversa franca e direta comigo, me explicou que eu estava com um nódulo, eu chorei, baixei a cabeça e chorei”. Esse depoimento é da pedagoga, Viviane Anunciação dos Santos, de 46 anos, que descobriu o câncer de mama em agosto do ano passado. 

A descoberta do câncer de mama foi muito difícil para a técnica de enfermagem, Vanusa Oliveira Nascimento, 37 anos. “Descobri da pior forma possível, eu amamentava minha bebê que tinha dois anos de idade, prestes a fazer três anos. Durante a amamentação percebi que algo estava errado, meu peito começou a ficar com uma massa pequena e dura, aí marquei uma ultrassom e a médica me aconselhou a parar de amamentar e procurar um mastologista, pois havia um nódulo na mama esquerda. Do dia do exame à consulta com o mastologista foram aproximadamente 7 dias, tempo suficiente pra o nódulo do tamanho de uma uva pequena passar a ter o tamanho de um limão grande, aquilo me deixou apavorada, aí começou a minha luta contra o tempo, fui encaminhada para biópsia que revelou um tipo de nódulo raro, o mastologista me encaminhou para o oncologista, pois o nódulo estava imenso no estágio 3 da doença”, disse.

Esta é a última reportagem da série do Farol da Bahia sobre o Outubro Rosa, que vai trazer a experiência vivida por duas mulheres que estão lutando contra o câncer de mama e vai abordar ainda os impactos psicológico vivido por quem descobre a doença. 

Para a psicóloga Mariana Rocha Cordeiro, especialista em Psico-Oncologia pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), adoecer de câncer de mama é um momento de crise, de impacto emocional, onde o paciente se depara com a real fragilidade do seu corpo, com a estabilidade da vida cotidiana rompida, com incertezas relacionadas ao futuro e muitas perdas.

“É como se de repente o destino fosse ameaçado e tudo o que se havia planejado para a vida, todos os sonhos e planos não fossem mais acontecer. O psicólogo é o profissional que cuida e autoriza a subjetividade, e com sua escuta acolhedora e suas intervenções, vai ajudar  esse paciente a elaborar algo a respeito do seu adoecimento, dar um significado, possibilitando que o mesmo se posicione não como vítima do que lhe aconteceu, mas sujeito de sua própria história de vida, com autonomia, e condições de escolher o que é melhor para si ao longo de todo o seu tratamento. Na psicoterapia, nós cuidamos não dá doença que habita esse sujeito, mas do sujeito que habita essa doença; e sempre trabalhamos com o caso a caso”, informou.

Foi o que Viviane fez, deu um significado ao processo. Passado o choque inicial, ela afirma que trabalhou a sua mente para aceitar que aquilo não era o fim. “Foi a chance de um novo recomeço, e a partir disso, tudo mudou. Eu percebi que aquilo só dependia de mim mesma, eu só teria a opção de estar realmente cuidando de mim, cuidando da doença”, disse.

“Coloquei na minha cabeça de que o câncer não é um inimigo. É uma doença que afetou um órgão do meu corpo, que foi a minha mama esquerda, e precisa ser tratada, eu tenho certeza que vou ficar curada, é um processo lento, não acontece de um dia para o outro, mas que com determinação, com fé, sabedoria, com foco, com tudo aliado, num contexto, com uma boa equipe de profissionais, eu acho que dá certo, eu acho que realmente há condição da mulher viver”, acrescentou.

Tratamento

Como o estágio do câncer de mama já estava avançado, Vanusa foi submetida imediatamente a quimioterapia. 

“Fiz 16 sessões de quimioterapia, 4 vermelhas e 12 brancas. Na terceira semana começou a queda de cabelo. Aquilo doeu, mas quando minha filha alisava meu cabelo e naquela mão tão pequenina vinha todo meu cabelo, então decidi raspar a minha cabeça, queria poupar a mim e a ela desse sofrimento”, disse.

Viviane conta que o tratamento dela foi com a quimioterapia, cirurgia, radioterapia e o uso do medicamento tamoxifeno, que terá que tomar por cinco anos.

“Eu descobri o nódulo através do autoexame, durante o banho. Daí fui fazer os exames e o diagnóstico se confirmou. A quimioterapia não foi um tratamento fácil, foi muito doloroso, tentei de todas as formas para fazer com que o processo não fosse tão doloroso, e graças a Deus, completou um ano que eu passei pelo meu primeiro ciclo de quimioterapia, foram sessões que eu imaginei que não iria suportar, mas que me ensinaram muito, o quanto eu sou uma mulher forte, uma mulher que luta e quer viver, acho que isso é o mais importante. Terminei a químio em maio deste ano, em junho eu fiz a cirurgia, a mastectomia total”, explicou.

De acordo com a psicóloga Mariana, a psicoterapia auxilia na maneira que essa mulher enfrentará o diagnóstico e o tratamento (cirúrgico, quimioterapia, radioterapia, entre outros). 

“Uma pessoa que se submete a um acompanhamento com psicólogo pode lidar melhor com as vivências de sofrimento e perdas desses processos: as cirurgias muitas vezes amplamente mutiladoras, o impacto na autoestima, no funcionamento social/sexual/cognitivo, os efeitos adversos de uma quimioterapia/radioterapia, a perda do senso de feminilidade e as incertezas frente uma recidiva. Além de ser possível minimizar esse sofrimento emocional, também podemos favorecer uma melhor adesão ao tratamento e orientações da equipe, o que repercute de uma forma geral na qualidade de vida dessa mulher”, informou.

Autoestima

O câncer de mama afeta também a autoestima da mulher por conta das transformações que aparecem em decorrência dos tratamentos. A queda do cabelo é o que mais impacta para elas.

“A autoestima, de uma maneira mais ampla, implica na maneira que essa mulher se vê não apenas no aspecto físico, mas também no valor que se sente em relação a si mesma e ao outro. No entanto, existe uma parte da autoestima dessa mulher que está vinculada à maneira que ela se olha e à avaliação que faz dessa imagem corporal”, disse Mariana Cordeiro.

Para Viviane, a autoestima vem de dentro para fora e não o contrário. “Sempre me achei uma mulher linda, nesse processo da transformação, do período que foi o aceitar a queda do cabeço, o processo de reações da químio, não foi fácil, mas eu assim que o cabelo começou a cair, eu raspei e assumi a minha carequinha, tenho saudade dela, eu me senti a mulher mais linda desse mundo. Nunca tive problema com relação a isso, pois sempre me considerei uma mulher linda”, relatou.

Otimismo

Vanusa deixa uma mensagem para as pessoas que acabaram de receber o diagnóstico de câncer de mama. “Seja forte, acreditem em Deus e no seu poder, reúna todas as suas forças para iniciar a grande batalha”. Viviane afirma que o câncer não é o fim. “Mulheres, se cuidem, se toquem, se amem. Façam o autoexame. O câncer de mama tem cura. Com força, fé, e determinação, tudo dará certo”, frisou.

“É importante sempre lembrarmos que somos pessoas com singularidade, ou seja, cada um de nós possui aspectos muito próprios de personalidade, vivências na vida que repercutem na maneira como lidamos com situações adversas ou desafiadoras. Uma coisa é pensar no “acontecimento”, que é o fato externo, a própria doença oncológica e o outro ponto é pensar na “experiência”, que é dimensão subjetiva desse fato, a forma como cada mulher vai olhar e enfrentar esse problema. Dessa forma, não podemos generalizar as reações, algumas apresentarão muito sofrimento emocional associado com as inúmeras possíveis perdas (sociais, imagem, etc) relacionadas à doença e ao tratamento e outras poderão lidar de uma forma mais positiva no sentido de ressignificarem suas vidas a  partir dessa experiência dolorosa que poder ser o câncer”, concluiu Mariana Cordeiro.

Prevenção

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2020, vão aparecer cerca de 3.460 novos casos de câncer de mama na Bahia, 1.180 casos só em Salvador.

Especialistas reforçam a importância de realizar anualmente a mamografia, ir periodicamente as consultas com o ginecologista e mastologista, além do autoexame, como formas de se prevenir contra doença. 

 

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